São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Novo tipo de drogas pode diminuir a quantidade do vírus HIV no sangue

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em dezembro último, a FDA, agência que controla alimentos e drogas nos EUA, autorizou a comercialização do saquinavir, produto contra a Aids desenvolvido pela Hoffmann-La-Roche, a primeira droga antiaidética baseada na categoria dos inibidores das proteases.
Estas são enzimas indispensáveis à vida do vírus HIV, causador da Aids.
Em fevereiro seguinte, em reunião científica referida por Christine Gorman em "Time" (12 de fevereiro de 96), os Laboratórios Abbott apresentaram uma segunda droga dessa categoria, ritonavir, que alegadamente reduz à metade a taxa de doentes em estado avançado do mal (pelo menos durante os sete meses de estudo).
E a Merck apresentou o indinavir que, como outras drogas em uso, como AZT e 3TC, reduziu de mil vezes o teor do vírus no sangue em 24 pacientes.
Outro fator importante da reunião foi a comunicação de novo método de avaliar o estado da moléstia pelo número de partículas de vírus, e não de anticorpos; esse método teria a vantagem de prever a duração da doença.
Recentemente se modificaram as noções sobre a evolução da Aids, que agora se acredita decorrer em três fases.
Na primeira, o vírus ataca certas células do sistema imune (glóbulos brancos T "helpers"), que prontamente mobilizam todos os recursos daquele sistema, travando-se batalha que se manifesta como doença rápida e aguda, do tipo gripe ou amigdalite, que muitas vezes desaparece por si ou passa despercebida.
Na segunda fase, o vírus vai para os gânglios linfáticos, onde, todavia, não fica latente, mas continua a replicar-se, deixando escapar suas partículas eventualmente para o sangue.
Aí as partículas de vírus são atacadas por outras células do sistema imune (T "killers") e por anticorpos. Essa fase pode ser assintomática e, em geral, dura muitos anos (até cinco, dez ou mais anos). Nela o indivíduo se mostra HIV-positivo, mas fisicamente sadio.
A terceira fase começa quando o sistema de defesa principia a fraquejar, o que se pode avaliar por métodos de contagem de partículas de vírus ou anticorpos. Diante dessa situação, o médico faz o diagnóstico formal de Aids e receita AZT ou outras drogas.
Essa fase caracteriza-se pelo assalto de numerosas doenças secundárias ou oportunistas.
Como o vírus se torna rapidamente resistente aos remédios usados (AZT, ddI, ddC e 3TC), é preciso usá-los em combinação, o que agora se acha favorecido pela entrada em ação dos novos remédios que referimos (saquinavir ou invirase, indinavir ou crixivan e ritonavir).
Lamenta-se que o tratamento tenha preço muito alto e que o vírus apresente mutações tão frequentes, obrigando os cientistas a um contínuo trabalho de busca de novas drogas antivirais.

GLOSSÁRIO
Inibidores de protease - Classe de drogas que impede o amadurecimento do vírus da Aids (HIV).
Enzima - Tipo de proteína que possui a capacidade de aumentar a velocidade de reações químicas específicas sem ser consumida no processo.
Anticorpo - Proteína fabricada pelo sistema de defesa de um organismo superior. Se ligam especificamente a uma molécula estranha que induziu sua síntese para atacá-la.
Vírus - Ser vivo formado por proteína e um ácido nucléico (DNA ou RNA).

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