São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Para analistas, caderneta fica na mesma

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A montanha pariu um ratinho. Faz três meses que o Banco Central (BC) estuda a mudança na fórmula de cálculo da TR (Taxa Referencial).
E quando ela sai, o que aconteceu na semana passada, de tão acanhada, os analistas duvidam que terá qualquer efeito prático.
A melhora no rendimento será tão marginal que Fábio de Oliveira, do Banco de Boston, diz que "os saques nas cadernetas de poupança vão continuar existindo da mesma maneira".
Ibrahim Eris, ex-presidente do BC e atualmente sócio da Linear Administradora de Patrimônio, é também enfático. "Essa decisão não tem a importância que o mercado e a imprensa deram."
Para ele, basta que o juro caia na mesma proporção do redutor "para que nada aconteça". Ou seja, para que a caderneta de poupança não ganhe qualquer rendimento a mais.
Apesar de nada ou quase nada ter mudado para a poupança, a queda gradual do redutor da TR, conforme a fórmula aprovada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), sinaliza a redução, igualmente gradualíssima, dos juros.
"Com o nível de atividade controlado e a inflação na casa de um dígito ao ano, discutir se o juro mensal efetivo vai ser de 2,20% ou 2,09% é uma piada de mau gosto", afirma.
Compromisso
O ex-presidente do BC afirma que não entende a razão de o Banco Central, presidido por Gustavo Loyola, ter "dado ao mercado dicas sobre o comportamento dos juros nos próximos seis meses".
"Com a medida, o Banco Central se auto-colocou em uma camisa-de-força", diz Oswaldo de Assis, do Banco Itamarati.
A camisa-de-força é uma trajetória gradualíssima para a queda dos juros, de forma a compatibilizar as diversas alternativas de aplicação financeira existentes no mercado (fundos, CDBs e caderneta de poupança).
É que a poupança só terá algum ganho se a queda dos juros for menor que o ritmo de queda do redutor da TR, que, a partir de julho, cai 0,05 ponto percentual.
"Pode existir alguma melhora absoluta, mas não muda nada relativamente a outros ativos."
Ou seja, a poupança pode até dar um trocado a mais, mas continuará pagando menos do que o FIF de 30 dias, por exemplo.
Alternativas
Para os analistas de mercado, a fórmula proposta pela Abecip (associação que reúne as instituições de crédito imobiliário) não vingou porque causaria outros problemas.
Ao vincular o rendimento da poupança a um percentual fixo do CDB, segundo a Folha apurou, a proposta inviabilizaria a continuidade da prática de alguns bancos de captar recursos na rede de agências com CDBs que pagam juros muito próximos da poupança.
E tudo o que o BC deseja evitar agora é marolas e incertezas no mercado financeiro.

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