São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Debates começam com confronto de estratégias

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O "G-7 Emprego" começa pondo frente a frente duas posições antagônicas, a do secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o francês Jean-Claude Paye, e a do diretor-geral da OIT, o belga Michel Hansenne.
Os dois debaterão na manhã de hoje "que orientações convém adotar nas políticas de luta contra o desemprego e a pobreza".
A OCDE, que reúne agora 26 países industrializados (a Hungria tornou-se membro), tem um enfoque francamente favorável à desregulamentação do mercado de trabalho, além de um toque otimista.
Paye batiza de "destruição criativa" o processo que acompanha o avanço tecnológico, em parte responsável pelo desemprego.
Sua tese é de que as novas tecnologias, em especial de comunicação e informática, acabarão por criar novos postos de trabalho para absorver os que estão sendo destruídos na indústria.
Já a OIT põe toda a ênfase no social e pede "um conjunto de políticas sociais apropriadas que melhorem o respeito pelos padrões trabalhistas básicos e enfrentem problemas como o desemprego de longa duração, a pobreza, a falta de preparo e a crescente disparidade na distribuição de renda".
Hansenne é pessimista: "No cenário vigente, o crescimento econômico não será suficiente para curar os males do desemprego endêmico na Europa ou para reverter o declínio na renda real nos EUA".
Hansenne sugere um retorno às taxas de crescimento econômico vigentes até o início dos anos 70.
É uma tese semelhante à de um especialista brasileiro, Reinaldo Gonçalves, titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro que trabalhou na Unctad, organismo da ONU para comércio e desenvolvimento.
"O menor dinamismo do crescimento econômico parece surgir como a variável mais determinante do elevado nível de desemprego nos países industrializados atualmente", escreve Gonçalves.
Gonçalves culpa o que chama de "paranóia antiinflacionária" por esse desempenho insuficiente. Se é assim, o problema do emprego vai continuar grave, porque a ênfase dos ministros de Economia (que, sintomaticamente, não estarão no "G-7 Emprego") é toda voltada para políticas antiinflacionárias.
Diz, por exemplo, o ministro francês da Economia, Jean Arthuis, o único que estará em Lille: "A dívida, os déficits públicos e a instabilidade são os inimigos do emprego". Podem até ser, mas a ortodoxia econômica recomenda que se olhem tais fatores como inimigos da inflação, muito mais do que do emprego.
Bem feitas as contas, o "G-7 Emprego" começa sob a marca de um problema antigo, já detectado por Hansenne: "Falta uma visão comum para inspirar a ação". (CR)

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