São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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IMPUNIDADE MORTAL

A morte de dezenas de pessoas devido à intoxicação pelo processo de hemodiálise feito no IDR (Instituto de Doenças Renais), em Pernambuco, é uma das evidências mais hediondas do descaso público e empresarial com a saúde da população. Mas não é, infelizmente, a única.
Por mais que a pobreza do país coloque limites à qualidade de toda ordem de serviços prestados à população, é inegável que a impunidade contribui enormemente para a desatenção ou a economia irresponsável de itens e procedimentos de segurança em áreas como a saúde.
Após vergonhosas tentativas de tratar o caso como uma fatalidade, o diretor do IDR -que chegou a classificar a intoxicação como "um acidente lamentável, que fugiu de qualquer controle da máquina e do homem"- admitiu que o instituto não realizava exames laboratoriais da água usada na operação, como exige a lei.
É claro que não se deve prejulgar nem atribuir responsabilidades antes da conclusão das investigações. Mas, segundo os indícios até agora disponíveis, a Secretaria de Saúde de Pernambuco considera que a intoxicação letal ocorreu na água utilizada para a hemodiálise.
O IDR é uma empresa privada, que opera com o SUS e que, como todo hospital, deveria estar sob a vigilância das autoridades de saúde. A água foi recebida de outra empresa, que opera os caminhões-pipa, e pode ter sofrido contaminação antes ou depois da entrega. As circunstâncias que levaram à morte dos pacientes precisam ser apuradas de maneira cuidadosa e sem precipitação. Mas será vergonhoso se, como em outros casos, nenhuma entidade ou pessoa for responsabilizada.
A impunidade é extremamente corrosiva. O desalento de Heleno Fortunato da Silva, uma semana antes de falecer, é emblemático: "fiquei aqui, acabando de morrer".

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