São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Juiz diz que Pareja não provocou motim

WILLIAM FRANÇA
DO ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA DE GOIÂNIA (GO)

Há controvérsia entre as autoridades e a população de Goiânia quando o assunto é Leonardo Pareja, o assaltante e sequestrador de 22 anos.
Alguns acham que ele não passa de um exibicionista. Outros, que é o protótipo do bom ladrão, um bom rapaz que seguiu o caminho do crime.
Pelo relato dos reféns que foram liberados e de alguns dos que ainda continuam sob o controle dos amotinados, Pareja não participou da ação da rebelião.
Acabou na liderança justamente por seu perfil: é articulado, frio, decidido e, acima de tudo, não usa de violência.
O próprio desembargador Homero Sabino, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás -um dos reféns-, foi quem indicou o sequestrador para a função de mediador das negociações.
A decisão foi confirmada pelos demais reféns e atendida pelos outros líderes do movimento.
Liderança
"Eu não sou líder da rebelião. Sou líder das reivindicações", disse Pareja definindo suas tarefas, numa de suas inúmeras entrevistas, no segundo dia da rebelião. Outros também reafirmaram a função do ex-menimo de classe média alta no motim.
"O Pareja é um líder nato. Ele tem controlado os mais exaltados", disse Antônio Lorenzo Filho, secretário da Segurança Pública de Goiás e um dos reféns.
Uma das afirmações mais comuns entre os moradores de Goiânia é de que foi Pareja quem arquitetou a rebelião.
O juiz Stenka Isaac Neto, da Vara de Execuções Criminais -tido como "padrinho" do assaltante-, sai em sua defesa.
"É uma besteira quem diz que a rebelião foi causada pelo Pareja. Ela aconteceria com ele ou sem ele. O que está provocando a rebelião é a situação dos presos", afirmou.
Porta-voz
Mas foi Pareja quem, há três semanas, denunciou ao Poder Judiciário as condições precárias do Cepaigo. Falou sobre maus-tratos, trabalho escravo e total falta de condições de sobrevivência.
Sensibilizado, o Judiciário criou o programa Justiça Itinerante -e foram justamente seus integrantes que acabaram como reféns na rebelião. Por isso, há quem o considere estopim da crise.
O certo é que Pareja domina a situação. Convoca entrevistas, escreve bilhetes, telefona para rádios e TVs e, quando pode, se exibe nas áreas internas do presídio: corre, joga bola, toca violão no alto da caixa-d'água do Cepaigo.
Segundo seu advogado, Natanael Lacerda, Pareja não é exibicionista. "Ele gosta é de levantar uma discussão".

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