São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Advogado de Pareja teme morte do cliente

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

O advogado Natanael Lacerda, 37, que defende Leonardo Pareja e ficou cinco dias como refém no Cepaigo, teme pela vida de seu cliente. "Ele foi ameaçado de morte por policiais e agentes penitenciários", disse Lacerda.
Ele trabalha para Pareja desde outubro de 95. Na época, foi convocado pela Justiça para acompanhar a rendição do assaltante. "Depois de se entregar, o Pareja me puxou em um canto e me convidou para ser seu advogado."
Lacerda não cobra para defender Pareja. "Por uma questão de solidariedade, costumo aceitar de graça casos que propiciem a discussão sobre a doutrina do direito." Leia a seguir trechos da entrevista.
*
Folha - O senhor acredita na possibilidade de Pareja ser assassinado em represália à rebelião?
Natanael Lacerda - Essa possibilidade existe. A minha preocupação é com agentes e policiais que faziam ameaças. A toda hora diziam "você vai morrer" a Pareja.
Folha - Qual foi a sensação na hora da rebelião?
Lacerda - De pânico. Estava conversando e vi um homem com uma faca na garganta. Não dá para imaginar o que é a vida lá dentro. Andei de terno e gravata até domingo, depois não aguentei. Queria ficar de terno para que, se a polícia entrasse, houvesse uma distinção entre mim e os presos. Não comia por medo de intoxicação.
Folha - Como eram as celas?
Lacerda - Eles colocaram botijões de gás do tipo industrial em cada cela. Eu ia lá cheirar para ver se não estava vazando. Outro botijão foi colocado no meio do corredor. Se a polícia entrasse e desse um tiro, ia tudo pelos ares.
Folha - O senhor foi ameaçado?
Lacerda - Só quando os juízes quiseram manter a pompa e começaram a se recusar a entrar nas celas. Então me colocaram uma faca na garganta. Depois desse clímax, só houve tortura psicológica.
Folha - Quem controla o motim?
Lacerda - São três grupos. Os racionais, os mediamente racionais e os irracionais. Se o Leonardo sair da liderança a coisa explode.
Folha - Pela sua experiência, como vai acabar a rebelião?
Lacerda - Vai depender muito das negociações. Quem está lá dentro está desesperado.

Texto Anterior: Juiz diz que Pareja não provocou motim
Próximo Texto: Rebelados têm quatro facções
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.