São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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O novo tirano

CLÓVIS ROSSI

Lille - A ditadura do pensamento único soterra até verdades elementares. Por pensamento único entenda-se, grosso modo, a idéia de dar todo o poder ao mercado, em especial o financeiro.
Os governos tornaram-se reféns do jogo do dinheiro. Não ousam mexer na taxa de juros e de câmbio ou em outras variáveis econômicas para não perder a confiança desse novo e iracundo deus.
Nesse ambiente, some uma pequena verdade lembrada ontem pela CSC (Comissão Sindical Consultiva junto à OCDE) a propósito do "G-7 Emprego", reunião especial dos sete países mais ricos.
Diz o texto: "Os homens e mulheres que trabalham necessitam, ao menos tanto quanto os mercados financeiros, confiar nas políticas governamentais".
De fato, sob a tirania do dinheiro, os governantes parecem esquecer-se de que políticas públicas deveriam visar a tranquilidade da maioria, não apenas do cassino financeiro.
Jean-Claude Paye, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os 26 países mais industrializados), diz que, sob controle dos mercados financeiros, os governos ficam com margem de manobra "extremamente reduzida" em matéria de políticas orçamentárias e monetárias (custo do dinheiro).
É um controle tamanho que o documento da CSC fala em "ilusão de inflação".
Seria o jogo do mercado financeiro para ressaltar "o menor sinal de inflação", como forma de pressionar pela manutenção de juros altos, supostamente antiinflacionários.
Uma "ilusão" que persiste mesmo no momento em que, no mundo todo, a inflação "conhece seu nível mais baixo em decênios", como dizem os sindicalistas.
Nesse ritmo, vai-se chegar a uma total incompatibilidade entre o tal de mercado e o ser humano.

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