São Paulo, quarta-feira, 3 de abril de 1996
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Napoleão de hospício

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - A expressão "Napoleão de hospício" é usada há anos por Fernando Henrique Cardoso.
Nos últimos dias, tem proferido a frase com frequência. "Não vou ser Napoleão de hospício", diz o presidente da República quando o tema da conversa é reeleição.
FHC não quer ficar obcecado por um desejo pessoal. Teme que isso o afaste das necessidades mais imediatas impostas pela conjuntura. Mas sabe que tem um problema sobre a mesa.
Qualquer atitude sua arregimenta uma legião de descontentes.
Por exemplo, mesmo que fosse contra a reeleição -e ele não é-, jamais poderia dar uma declaração contrária à tese. Perderia poder. Estaria dizendo, antecipadamente, não ter ânimo para um segundo mandato. Os aliados sairiam à caça de novos messias.
Por outro lado, FHC avalia que seria um risco alto demais tornar-se o capitão da guerra pela reeleição. Fica irritado quando lhe pedem isso.
O máximo que faz é acender o sinal verde para aliados se lançarem na batalha.
O presidente não quer, no caso de um fracasso, ser identificado como o derrotado principal.
Além disso, e principalmente, FHC enxerga muita gente interessada no assunto. Governadores e prefeitos importantes poderiam lutar pela reeleição junto ao Congresso. Tanto quanto reclamam isso dele.
É assim, portanto, que FHC analisa a reeleição. É a favor. Acha que não pode fazer uma declaração pública. Ficará feliz da vida com a aprovação ainda neste ano.
Se tudo fracassar na tentativa atual, o presidente acha que o Plano Real indo bem a reeleição estará garantida mais para a frente.
O curioso nessa história, contada por pessoas que entendem muito de FHC, é que o presidente permita a um assessor tão próximo, como Sérgio Motta, fazer o papel de "Napoleão de hospício".
Por quê?

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