São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Grandes partidos vivem decadência
CARLOS EDUARDO ALVES
O PSDB é talvez o exemplo acabado do fracasso do salto da retórica para a prática. Fundado também para combater o inchaço, a dependência da máquina e outros defeitos diagnosticados no pai PMDB, o partido hoje vive basicamente de acertos de caciques no Palácio do Planalto ou nos vários outros hoje habitados por governadores tucanos. Não há vida partidária no PSDB. Os encontros e reuniões dos tucanos lembram os eventos da fase áurea peemedebista: diretores e funcionários de estatais, arenistas arrependidos e poucos militantes. "O PSDB pelo menos tem o projeto político de reeleger Fernando Henrique", atenua o presidente do PPB, senador Esperidião Amin. Para ele, partido que não disputa com chance a Presidência não sobrevive sem crise. Amin vincula o processo de engorda do PPB à perspectiva de uma candidatura presidencial de Paulo Maluf. Ordem unida O senador catarinense exagera, porém, ao enxergar vitalidade no cotidiano de sua legenda. No PPB, tudo se resume às ordens de Maluf, com direito a ponderações de Amin e do deputado Delfim Netto, além da voracidade de parlamentares por cargos federais. No outro extremo ideológico, o PT continua com uma luta interna interminável. Só que, cada vez mais, os conflitos são protagonizados por grupos que beiram o messianismo, com quase nula expressão na sociedade. "A crise de projetos atinge até a direita", consola-se o presidente petista José Dirceu, que admite como origem óbvia de grande parte da crise do partido o fracasso do chamado "socialismo real". Mesmo com diferenciais em relação a outras legendas, como a rotineira rebelião do que sobrou da militância contra os caciques, o PT sofre com o envelhecimento dos adeptos. "Os jovens estão participando menos", admite Dirceu. Profissionais No quadro de partidos em queda, o PFL nada de braçadas. Também não tem vida partidária, mas a irrefreável vocação governista da agremiação e a retórica pela "modernidade" ganharam na gestão FHC um peso ainda maior. "O PFL tem uma base rural, com um eleitorado mais disciplinado, e essa base influencia o exercício do mandato do parlamentar", diz Paes de Andrade, presidente do PMDB, para tentar justificar a diferença da coesão das bancadas de seu partido e do PFL na Câmara. Paes nega que seu partido viva uma crise. "O que existe é que temos várias tendências doutrinárias, e às vezes isso esquenta os debates", tergiversa. O presidente peemedebista, no entanto, é cada vez mais desautorizado pela maioria pragmática do partido, que não quer abrir mão de cargos e benesses do Planalto. Texto Anterior: Congresso tenta votar reforma eleitoral há 5 anos Próximo Texto: Intelectuais vêem crise Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |