São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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Intelectuais vêem crise

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O PMDB é a face mais visível, mas está longe de ser o único partido a exprimir a crise que afeta todas as grandes legendas do país.
Crise que se evidenciou recentemente, seja nas manobras fisiológicas que envolveram o governo, seja na dificuldade dos partidos em realizar convenções para escolher os nomes que devem disputar as eleições municipais em outubro.
Intelectuais ouvidos pela Folha acreditam que há um debilitamento generalizado na estrutura partidária brasileira. "Os grandes partidos brasileiros foram criados em outra conjuntura e agora seria uma ótima oportunidade para reestruturá-los", diz o cientista político Bolívar Lamounier, diretor de pesquisa do Idesp (Instituto de Estudos Sociais e Políticos).
Segundo ele, pode-se falar genericamente em "crise de identidade", que se manifesta em cada um dos partidos de forma específica. O PMDB, diz Bolívar, "perdeu a bandeira plebiscitária que fez seu sucesso durante o período militar. Hoje, em frangalhos e sem liderança nacional, tenta vender um discurso desenvolvimentista cada vez mais arcaico".
Com os dois principais partidos governistas, PSDB e PFL, as coisas não andam melhores, na avaliação de Bolívar. "O PSDB, no curto prazo, não tem como fazer valer sua imagem social-democrata. Está preso às manobras clientelistas do governo e se ressente da falta de políticas sociais mais amplas", diz.
PFL
O PFL, prossegue Bolívar, "ora desempenha o papel de vanguarda das reformas, quando o assunto é a ordem econômica, ora é o primeiro a emperrá-las, quando se trata de atacar a reforma administrativa. É um partido refém de meia dúzia de caciques do Nordeste".
O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atribui o desgaste dos partidos a uma conjunção entre o cenário internacional e a agenda nacional de reformas, que passa pela reforma constitucional.
"Por um lado, a cena internacional parece ter deixado pouca margem de manobra aos partidos locais. Todos devem seguir uma receita que parece inescapável. Por outro lado, a reforma da Constituição aguça interesses de grupos e abre espaço para a barganha", diz.
O historiador Boris Fausto, professor do Departamento de Ciência Política da USP, concorda que "há uma crise grande em todos os partidos" e atribui a responsabilidade disso ao embate de interesses particulares que afloram em momentos de reforma como o atual. "Os interesses estão tão recortados que a tarefa de fazer as mudanças fica muito dificultada", afirma.
Na sua avaliação, talvez seja "o PFL quem hoje vive menos problemas de identidade. Tem uma estratégia de poder definida e vem encontrando meios de executá-la". O PMDB "é um caso particular, com sinais claros de esgotamento".
Nesse quadro de indefinição, o PT merece um tratamento diferenciado na análise dos intelectuais. Todos concordam que é o partido mais orgânico do país, mas está fragilizado.

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