São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Os sem-terra bateram na minha porta, mas não abri'
IRINEU MACHADO
"Os sem-terra estavam acampados na beira da estrada desde segunda. Na quarta, ao meio-dia, eles foram para o meio da pista e começaram a fazer a manifestação, cantando e gritando. A polícia começou a chegar às 15h. Às 16h, começaram os problemas". Melo disse que viu tudo de dentro do bar. No momento em que a polícia se aproximou, segundo ele, começaram os disparos. "Choveu bala para todo o lado. Quando vi que a coisa iria ficar feia, fechei o bar e eu e as cinco pessoas que estavam em casa corremos para o quarto e deitamos no chão. Os tiros duraram mais ou menos uma hora", declarou. O comerciante contou que alguns sem-terra tentaram se refugiar em sua casa durante o tiroteio. "Eles bateram na porta, mas eu não abri", disse. Quando os disparos estavam diminuindo, voltaram a bater na porta de Melo: "Eram os policiais, perguntando se havia algum sem-terra aqui para botar para fora. Eu disse que não e reabri o bar". Corpos no chão "Vi muitos corpos no chão, ainda daqui de dentro de casa. Por volta de 19h30, os policiais falaram para eu fechar a porta porque eles iriam recolher os corpos. Só voltei a reabrir às 22h30. Foi nesse horário que a turma de sem-terra, que tinha fugido para o meio da mata, começou a reaparecer", disse. O comerciante disse que não contou o número de corpos e nem viu quem estava morto, se eram mulheres, homens ou crianças. Ele disse que ouviu tiros vindos do grupo dos sem-terra, mas que não viu quem estava armado. O dono do bar é conhecido na região como o "Pernambuco da Curva do S". Abriu o bar nesse local há dois anos. Mora com a mulher e duas netas. Melo e outros moradores da região prestaram depoimento na manhã de ontem aos investigadores da Polícia Civil do Pará. Um grupo de 20 policiais e delegados da Polícia Federal de Belém chegou ao local do conflito para auxiliar nas investigações. Busca no rio Cerca de 250 soldados do Exército começaram na manhã de ontem a vasculhar a região do conflito, em um raio de 20 quilômetros. O coronel Saintclair Paes Leme Neto, que comanda o batalhão, disse ter recebido informes de que haveria crianças e mulheres mortos no conflito. Ele não revelou quem deu as informações. Os corpos teriam sido embrulhados em plásticos e jogados no rio Vermelho, nas proximidades do local, segundo o coronel. Uma equipe de seis soldados foi enviada ao rio em um bote a motor. Não há previsão de quando as buscas vão terminar. Texto Anterior: MST faz lista de desaparecidos Próximo Texto: Veja como foi o confronto em Eldorado Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |