São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Região do conflito rejeita o movimento dos sem-terra

LUCAS FIGUEIREDO
ABNOR GONDIM

LUCAS FIGUEIREDO; ABNOR GONDIM
ENVIADOS ESPECIAIS A ELDORADO DE CARAJÁS

População convive com clima de insegurança há três décadas

Enquanto a opinião pública e o próprio governo reconhecem no movimento dos sem-terra um problema social a ser resolvido, boa parte da população da região do Bico do Papagaio rejeita o movimento.
Situada na confluências das fronteiras de quatro Estados -Pará, Maranhão e Tocantins-, a região é palco histórico da luta por terras.
Os constantes conflitos tornam difícil a vida de grande parte dos moradores. Cansados de invasões, saques, interdição de estradas e de violência, a maioria rejeita o movimento dos sem-terra.
Uma frase é ouvida com frequência na região de Eldorado de Carajás, onde pelo menos 19 sem-terra foram mortos por policiais militares na quarta-feira passada: "Eles têm de morrer, todos".
Radicais
Os sem-terra da região são considerados os mais radicais do país. A maioria dos que conversaram com a reportagem da Folha nos últimos dois dias disse estar disposta a morrer em troca de um título de propriedade rural.
Na Fazenda Macaxeira, em Curionópolis (650 km ao sul de Belém), sem-terra caminhavam pelo local armados de espingardas. A disputa pelo terreno foi a causa do massacre em Eldorado de Carajás.
A Comissão Pastoral da Terra registra mais de mil assassinatos por disputas de terras desde 1964.
Barril de pólvora
"É um barril de pólvora, e já acenderam o pavio. Agora não tem mais volta, e, com certeza, o movimento vai se acirrar", analisa o médico Vinícius Tassis, que atendeu os feridos do massacre de Eldorado de Carajás.
Filho de fazendeiros de Governador Valadares (MG), o médico conta que nunca viu tanta pobreza como a da região. "Até cachorros vivem melhor que esse pessoal aqui", afirma.
O olhar de quem vem de fora nem sempre é igual ao da população local, que convive com o clima de insegurança há três décadas. "Eles fedem", resume o comerciante João Francisco de Deus.

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