São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Reforma do Estado virou a única bandeira do PSDB

Para líderes, mudanças seriam base para a social-democracia

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Oito anos após a sua criação, o PSDB que fez ontem sua Convenção Nacional é um partido que coloca a reforma do Estado como sinônimo da social-democracia que lhe fornece a sigla.
Nove de cada dez lideranças tucanas ouvidas pela Folha citam a reforma do Estado como condição prévia e essencial para que se possam aplicar políticas sociais que mereçam o rótulo de sociais-democratas.
A formulação mais clara está em um texto preparado para a convenção pelo deputado federal Antônio Kandir (SP) e que recebeu sugestões de outros parlamentares e de intelectuais próximos do partido (Vilmar Faria, Bolívar Lamounier e Sérgio Fausto).
O texto "está estruturado em torno da questão do Estado, mais propriamente da reforma do Estado, como condição indispensável para o país vencer os desafios de inserir-se de modo competitivo na economia mundial e incorporar a grande massa dos brasileiros no mercado e na sociedade".
Concorda o líder do partido na Câmara, José Aníbal (SP): "O que marca o PSDB é o desafio de fazer as reformas que recuperem, para o Estado, a condição de investir nos setores em que deve fazê-lo".
Essa visão, benevolente, não é compartilhada nem por acadêmicos não-tucanos nem por lideranças dissidentes do próprio partido.
"O partido está sem agenda alguma", fulmina Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, em rota de colisão com a cúpula partidária e o governo de Fernando Henrique Cardoso.
"A cara do PSDB é, hoje, indefinida", diz Wanderley Guilherme dos Santos, cientista política das Faculdades Cândido Mendes (RJ).
Mais ferino é Nílson Borges Filho, cientista social da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina): "O PSDB começou como partido, transformou-se numa grife e, hoje, não passa de ponta de estoque do PFL", diz.
O curioso é que pelo menos dois dos governadores peessedebistas garantem que fazem uma gestão social-democrata.
Mário Covas (SP) até admite que as circunstâncias, além das convicções, levaram-no a atuar na área social.
Diz que, em um único fim-de-semana e em uma só cidade (Jundiaí), entregou mais casas populares (2.560) do que todo o badalado programa Cingapura do prefeito paulistano Paulo Maluf (2.400).
Motivo: 1% do ICMS, imposto arrecadado pelo Estado, está vinculado à habitação popular. Como o Estado não tem dinheiro para investir em outras áreas, Covas aproveitou a vinculação para atuar na questão habitacional.
Mas Covas lista também outras ações que considera tipicamente sociais de seu governo.
A de que mais se orgulha: "Eliminar, pela reforma educacional, o odioso privilégio de os filhos dos ricos poderem estudar cinco horas, na escola privada, e os filhos dos pobres se conformarem com só três horas, na escola pública".
Tasso Jereissati (CE) aponta o fato de ter rompido com o coronelismo clássico no Ceará como uma ação de cunho nitidamente social.
"O Ceará era incapaz de fazer qualquer política porque não tinha recursos, sugados pelo clientelismo e coronelismo. Quando você corta esses privilégios, passa a poder investir no social e melhorar a distribuição de renda", diz Tasso.
Sobre o governo FHC, os dois apontam uma linha social, que é contestada por, por exemplo, Guilherme dos Santos. "O governo mais reage do que age. E, quando age, as consequências não vêm", diz, citando emendas constitucionais já aprovadas, mas ainda não regulamentadas.

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