São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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USP tem dificuldade para preencher vagas abertas

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

As aposentadorias precoces nas universidades públicas brasileiras estão pondo em risco áreas importantes do conhecimento. Na USP, as mais atingidas são as de letras.
"Estamos com dificuldades muito sérias para preencher vagas de russo e hebraico", afirma o diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, João Batista Borges Pereira, 63.
Também há vagas abertas em armênio, chinês e árabe. "São áreas que exigem competência. Não dá para remanejar um professor de sânscrito para dar aulas de latim."
Esse problema surge porque as administrações das universidades têm aproveitado a onda de aposentadorias para "enxugar" o quadro de pessoal, proibindo novas contratações (leia ao lado).
Em 95, a FFLCH pediu a reposição de 25 professores. Recebeu cinco no início deste mês. Em toda a USP, foram 404 pedidos de contratação. Foram concedidos 74.
A reitoria mantém uma política de garantir contratações emergenciais -como em casos de alunos que ficam sem professor.
Nem o reitor da USP, Flávio Fava de Moraes, nem a vice-reitora, Myriam Krasilchik, presidente da Comissão de Recursos Humanos, podiam falar à reportagem da Folha na semana passada, segundo a assessoria de imprensa, contactada na terça, quarta e quinta-feira.
Renovação de quadros
Outro efeito marcante desse processo de aposentadoria é a renovação dos quadros docentes de determinadas áreas.
A antropologia da USP, por exemplo, perdeu quatro professores em cinco anos, por morte ou aposentadoria.
A Universidade Federal de São Paulo (ex-Escola Paulista de Medicina) perdeu 32 de seus 650 docentes. "Todos por causa da reforma da Previdência", diz o reitor, Hélio Egydio Nogueira, 56.
Segundo ele, os aposentados continuam fazendo pesquisa, mas "as instâncias de poder estão ficando mais jovens".
Ruy dos Santos Pinto, 68, fundador e diretor durante dez anos do Centro de Assistência Odontológica da Unesp de Araçatuba, também vê sua aposentadoria como uma "renovação de quadros".
"Poderia esperar mais dois anos para me aposentar, mas havia a ameaça à aposentadoria integral."
(FR)

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