São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Erro pode absolver acusados da Candelária

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Erros nas investigações e no reconhecimento de suspeitos devem garantir a absolvição de pelo menos dois dos quatro acusados de matar oito crianças e adolescentes que dormiam perto da igreja da Candelária (centro do Rio) em 23 de julho de 1993.
Marcado para o próximo dia 29, o julgamento dos réus da chacina da Candelária se caracterizará pela união da defesa e pela acusação fragilizada por brigas entre ONGs (organizações não-governamentais) supostamente empenhadas na proteção aos menores que vivem nas ruas do Rio.
Os quatro réus foram presos dias após a chacina.
Investigações iniciadas há seis meses levaram os promotores Maurício Assayag e José Piñeiro Filho -representantes do Ministério Público no julgamento- a suspeitar da inocência do soldado Cláudio Luiz Andrade dos Santos, preso há quase três anos.
Dois dias após a chacina, o soldado foi confrontado com sobreviventes na DDV (Divisão de Defesa da Vida) da Polícia Civil.
Ladeado por 11 homens brancos, Santos, que é negro, foi apontado pelos menores de rua como um dos assassinos.
Eles falavam em um homem negro. Foram levados a um reconhecimento onde só havia um negro entre as pessoas a serem observadas.
Pressões
Para o advogado Francisco Fernandes, seu cliente foi vítima de investigação "precipitada por pressões dos governos federal e estadual".
"Queriam dar à opinião pública a notícia de que haviam encontrado os culpados", disse Fernandes.
A retomada das investigações no ano passado indicaram que Santos teria sido confundido com o policial militar Maurício da Conceição, o Sexta-Feira 13, morto há dois anos.
Sexta-Feira 13 seria o chefe dos chacinadores, acreditam os promotores, que se preparam para pedir no júri a absolvição do soldado. Até os representantes das vítimas crêem na inocência de Santos.
"Há grandes probabilidades de ele ser inocente", disse à Folha Cristina Leonardo, coordenadora da ONG Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes e advogada dos menores de rua.
Sósia
O caso do tenente Maurício Ferreira Cortes, da PM, também pode resultar em absolvição.
Reconhecido pelo sobrevivente Wagner dos Santos, ele está preso há quase três anos.
Com a prisão de quatro novos suspeitos, há duas semanas, os promotores se espantaram. Um dos presos, o ex-PM Carlos Jorge Liaffa Coelho, é muito parecido com o tenente.
A recém-surgida dúvida pode resultar na absolvição de Cortes.
O julgamento do tenente, de Santos, do soldado PM Marcos Vinícius Emmanuel e do serralheiro Jurandir Gomes de França está marcado para as 13h do dia 29, no 2º Tribunal de Justiça do Rio.
Acordo
Será um júri popular, com sete jurados escolhidos na hora por defesa e acusação.
Um acordo entre promotores e advogados resultará no desmembramento do julgamento.
Conforme o acordo, o primeiro a ser julgado será Emmanuel. Os demais réus serão julgados nos meses seguintes.
Passados quase três anos da chacina de repercussão internacional, em nada melhorou a situação das crianças e adolescentes que sobreviveram ao ataque na Candelária (leia textos abaixo).

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