São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Região Sul é mais 'família' do que a Norte

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sulistas são os que mais se casam e os que menos se separam. Os nortistas são campeões em uniões informais e separações.
Não é só na geografia e nas cifras financeiras que as regiões Norte e Sul são extremos do Brasil. Seus habitantes têm costumes opostos nas relações conjugais. É o que revela o mapa do casamento e da solidão, feito pela Folha a partir da última Pnad do IBGE.
O contraste econômico entre Norte e Sul transcende os indicadores sociais e cria, aliado à maior ou menor presença do Estado, discrepâncias no comportamento dos brasileiros dessas regiões.
A Pnad de 95 deverá mostrar uma discrepância ainda maior, porque a de 93 não inclui dados da população rural da região Norte.
A média brasileira fica no meio do caminho entre os dois Estados: 18,2% da população está separada ou vive em união consensual.
Causa econômica
Senadora pelo Acre, Estado recordista em percentual de separados com 12,5% (dobro da média nacional, de 6,3%), Marina Silva (PT) diz que engana-se quem vê nesses números um sinal de liberalidade de costumes.
"O alto índice de separações é fruto do processo econômico. Os maridos vão buscar emprego no garimpo ou em fazendas distantes e a família se desagrega", diz a senadora, que já foi casada formalmente, separou-se e vive hoje com o segundo marido e quatro filhos.
"A prosperidade junta as pessoas, a miséria separa", resume o amazonense Luiz Antônio de Medeiros, hoje presidente da Força Sindical. Separado duas vezes e com fama de conquistador, ele concorda com a tese da economia ditando os costumes.
Essa regra vale também na hora de casar, afirma a deputada paraense Elcione Barbalho (PMDB-PA). Na sua opinião, o recorde de uniões consensuais da região Norte se deve ao fato de ela ser mais barata do que o casamento em cartório.
As enormes distâncias conjugadas com a rarefeita presença do Estado são apontadas pelos três como razão adicional para as relações conjugais serem mais informais do que em outros Estados.
Grandes contingentes de pessoas vivem na beira dos rios, a centenas de quilômetros do cartório mais próximo e, portanto, da possibilidade de algum registro civil.
Eles também são unânimes em afirmar que a região é conservadora e machista. Elcione viveu o problema ao separar-se de Jáder Barbalho em pleno mandato do marido como governador. "Foi inesperado e chocou, como chocaria em qualquer Estado", conta.
Tradição familiar
Ela vive situação oposta à do colega de Congresso Esperidião Amin (PPB). Senador por Santa Catarina e ex-governador, fez campanha para presidente em 94 junto com a mulher, Ângela Amin, que disputou o governo estadual.
Esperidião vê na tradição familiar a principal causa para as discrepâncias de costumes entre Sul e Norte: "A família é a base de todo o processo econômico e histórico catarinense. Marido e mulher donos de uma pequena propriedade rural não se separam".
Casada há 27 anos, dois filhos e três netos, a gaúcha Emília Fernandes (PTB) é senadora pelo Estado que tem o menor percentual (23,8%) de solteiros do país. "No Rio Grande do Sul ainda se acredita na família como instituição", diz.

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