São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Os Nobel querem mínimo maior

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

No Congresso, as forças mais conservadoras fazem oposição ao presidente. O clima de insegurança com relação ao emprego é crescente. Apesar da inflação baixa, ainda predominam as expectativas de que os juros continuarão altos.
A concorrência dos importados, em especial da China, é vista como insuportável. O déficit público é monstruoso e a questão da sucessão presidencial sobrepõe-se a todas as outras. Nas grandes cidades, as áreas faveladas crescem e as principais vítimas continuam sendo de origem "afro".
Nesse ambiente cheio de tensões políticas e econômicas, em que a abertura da economia parece ao mesmo tempo uma esperança e uma ameaça, a preocupação que agora vai para o alto da agenda é o aumento do salário mínimo.
Se você acha que tudo isso está acontecendo no Brasil, errou de coluna. Esta é a cena, em cada detalhe, hoje nos Estados Unidos.
O presidente Clinton quer aumento de US$ 0,90 no mínimo nos próximos dois anos, colocando o piso salarial em US$ 5,15 por hora.
Os republicanos são contra, posição cada vez menos defensável num ano eleitoral. Os economistas dizem que talvez não custe tanto dar o mínimo, mas também talvez o efeito do aumento seja pífio.
Politicamente, a medida pode não ser significativa, pois teria pouco impacto sobre os trabalhadores de classe média, a faixa aparentemente mais desesperada na economia americana.
Alguns conservadores são contra por princípio, pois consideram um absurdo fazer leis para fixar salários. Mas o consenso da profissão é a favor. A proposta de Clinton recebeu o apoio de 101 economistas, grupo que inclui vários prêmios Nobel. O coordenador do Conselho de Assessores Econômicos do presidente, o economista Joseph Stiglitz, alerta para o fato de que o mínimo está no seu mais baixo nível em 40 anos.
Mas o consenso não foi suficiente, até agora, para convencer os economistas do Fed, o banco central americano. A conhecida teoria de que aumentos salariais apenas criam mais desemprego tem sido lembrada pelo presidente do órgão, Alan Greenspan, entre outros. O aumento do mínimo custaria empregos exatamente aos mais pobres e às minorias.
Seja qual for a decisão do Congresso, o debate sobre o reajuste do mínimo deslocou a agenda da campanha eleitoral de temas republicanos para uma pauta ditada pelos democratas. Ainda que o clima de pânico econômico tenha sido semeado principalmente por um pré-candidato republicano, o ultraconservador Pat Buchanan.
O "Wall Street Journal" lembrou na semana passada que pouco mais de 5% dos trabalhadores americanos ganham o mínimo. Segundo o Economic Policy Institute, 11,7% da força de trabalho (12,2 milhões de pessoas) ganha atualmente entre US$ 4,25 e US$ 5,15, mais da metade em trabalhos precários e cerca de um quarto na adolescência. Fica, portanto, realmente difícil saber até onde vão os custos, até onde os benefícios.
Se a técnica e o horizonte eleitoral se confundem tanto nos Estados Unidos, por um aumento de US$ 0,90, o que dizer do debate sobre o mínimo no Brasil, às vésperas de maio? Mas isso é tema para outros colunistas.

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