São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Alternativas ao consenso neoliberal

EMIR SADER
ESPECIAL PARA A FOLHA

1995 terminou com um reinício de decolagem do pensamento social crítico, depois de uma letargia, produto do consenso neoliberal reinante. Foi precisamente na reação contra este, que a reflexão alternativa sobre a herança do país para um novo ciclo de desenvolvimento de conteúdo distinto do atual, que surgiram as melhores contribuições.
Dentre elas está este volume, que contém dois trabalhos de César Benjamin e de Tânia Bacelar, que caminham na mesma direção interpretativa e que fazem parte de um projeto nacional alternativo, resultado de uma reflexão coletiva. Ambos partem da mesma constatação: contamos com uma economia altamente dinâmica e uma sociedade fraturada. Pela concentração de renda e pela dificuldade de acesso aos meios de produção, assim como pela orientação da produção, voltada para o consumo das elites e para a exportação.
Ao esgotar-se o ciclo de desenvolvimento de 1930/80 se constituíram os preconceitos que hoje permeiam a ideologia neoliberal: o "estatismo", o "isolacionismo nacionalista" e a "ineficiência", que Benjamin desmonta em suas falácias.
Assim como as de que existiria uma crise de financiamento na nossa economia, de que teríamos perdido a competitividade internacional, assim como de que o Estado é um tomador de recursos no setor privado e não seu financiador e de que o setor privado brasileiro é essencialmente saudável, estando preparado para uma retomada sustentada do crescimento. Ou ainda, de que o desenvolvimento brasileiro depende da atração de capital estrangeiro ou de que a economia brasileira é fechada.
As políticas de ajuste que responderam à crise dos 80, resumidamente significaram produzir caro para poucos, com grande lucro unitário, o que foi possível pelo alto grau de monopolização numa ponta da economia e pela concentração reiterada de renda, na outra. Para superar essa situação temos, antes de discutir políticas econômicas, que definir metas nacionais. As vantagens comparativas com que contamos para um novo ciclo de crescimento são claras: o território e os recursos naturais, a população e seu potencial para um mercado interno de massas, uma base produtiva moderna e articulada, mas que não está na ponta tecnológica.
Valorizar nossa população e o patrimônio natural e social do país são os fundamentos últimos da constituição de um novo imaginário nacional. A dinâmica econômica que daí deriva é a criação de um mercado interno de massas, a nova face fundamental da questão nacional, marcada nas décadas anteriores pela defesa dos recursos naturais e pela opção industrializadora. Para tanto, é necessário, antes de tudo, aumentar, na maior velocidade possível, a produtividade média do trabalho social, reter em nosso território a maior parte possível da riqueza criada e distribuir essa riqueza da forma mais equitativa possível.
O desafio do projeto nacional alternativo em elaboração é o de responder de forma abrangente a esses imperativos, evidenciando que a orientação econômica atual é uma -e não a única- das alternativas, aquela que desestrutura o que foi construído ao longo de décadas. Da consolidação alternativa buscada por Benjamin e Tânia Bacelar, depende a possibilidade de construção de uma democracia com alma social.

A OBRA
Brasil - Reinventar o Futuro - César Benjamin e Tânia Bacelar. Ed. Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (av. Rio Branco, 277, Rio de Janeiro, CEP 20040-009, tel. 021/532-1398). 112 pág. R$ 10,00

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