São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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Segurança total custaria US$ 24 bilhões

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Países e organizações ocidentais injetam cerca de US$ 1 bilhão por ano na manutenção dos antigos reatores soviéticos.
O valor para uma solução definitiva do problema, avalia o Banco Mundial em estudo de 95, chegaria a US$ 24 bilhões.
Por solução definitiva entende-se o fechamento das unidades mais perigosas e total reequipamento das outras. Como opção, sairia por US$ 18 bilhões o fechamento das usinas e sua troca por unidades termoelétricas alimentadas por gás, diz o estudo.
O problema é que ninguém quer pagar preço tão alto. A Rússia e representantes do G-7 (clube dos sete países mais ricos do mundo, formado por EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) começaram a discutir o assunto este fim-de-semana em Moscou.
Diplomatas ocidentais esperam que o presidente russo, Boris Ieltsin, aproveite sua campanha pela reeleição para apresentar alguma proposta concreta -em especial uma ajuda para a Ucrânia fechar os dois reatores remanescentes de Tchernobil.
Demanda
Apesar dos riscos, há um fator que atrasa uma decisão sobre os reatores: eles produzem boa parte da energia nos países do antigo bloco oriental.
Na Lituânia, dois reatores RBMK -similares aos de Tchernobil- de altíssima periculosidade fornecem 80% da energia consumida.
"O pior é que eles precisariam ser fechados imediatamente", disse o pesquisador austríaco Alfred Birkhofer durante uma conferência presidida por ele há duas semanas em Viena.
Situação grave também ocorre na Armênia. Quatro reatores VVER fechados por risco de acidente no terremoto de 1988 serão reabertos até junho. O país precisa da energia nuclear, que garantia até o terremoto 25% do volume consumido no país.
Na Rússia 12% da energia é de origem nuclear. Em regiões remotas como Kola, no Ártico, o percentual é de 100%.
No bloco que hoje quer se integrar à União Européia, a situação não é melhor. Metade do consumo húngaro de energia é nuclear, percentual que desce para 35% na Eslováquia e 32% na Bulgária.
O ex-satélite mais promissor em termos econômicos, a República Tcheca, obtém 20% de sua energia de usinas nucleares. A de Temelin, ainda em fase de testes, é alvo de críticas de grupos ambientalistas e do governo austríaco, que não querem sua abertura.
Ela segue o modelo VVER mais moderno e teve US$ 315 milhões emprestados para o seu desenvolvimento pelo Eximbank norte-americano.
Enquanto os governos e organizações como o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento investem em nome da segurança de seus países, empresas ocidentais vislumbram bons negócios na área nuclear no antigo bloco soviético.
Segundo o IIEE, negociam contratos a Westinghouse (EUA), Siemens (Alemanha), Electricité de France (França), AEA Technology (Reino Unido), SKB (Suécia) e IVO (Finlândia).
O preço varia e não é revelado pelas empresas.
Para evitar que os reatores "jurássicos" da Lituânia explodam e, de quebra, contaminem seu país, os suecos gastam US$ 10 milhões anuais em manutenção.
A usina de Kola, na Rússia, ganhou US$ 60 milhões em 1995 em reformas pelo Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento.
O medo de um acidente, também neste caso, é maior entre os escandinavos -que são os vizinhos diretos da usina.

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