São Paulo, domingo, 21 de abril de 1996
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FMI DO B

Para o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Michel Camdessus, os problemas do sistema bancário brasileiro devem continuar "por mais algum tempo".
É uma declaração inusitada, já que habitualmente os técnicos do FMI guardam boa dose de discrição (descontados alguns episódios, como o do técnico José Fajgenbaum, aliás punido pelo Fundo em 1991).
É surpreendente, já que em se tratando de declarações sobre bancos toda discrição é pouca.
E a surpresa é maior levando-se em conta que o Brasil serve-se do FMI como consultor para o saneamento do sistema financeiro.
Para Camdessus, "mais bancos vão desaparecer, outros serão fundidos e muitos precisam se fortalecer".
A revelação é mais preocupante diante da prática dos últimos meses. Nada garante que esses "desaparecimentos" e "fusões" ocorram sem traumas para os depositantes, investidores e, pior, para o Tesouro.
O diretor-gerente do Fundo talvez tenha a intenção de afetar normalidade, quase rotina num processo que, para a sociedade brasileira, está ainda longe da transparência e da legitimidade recomendáveis quando se trata de usar recursos públicos.
As informações disponíveis dão conta de um quadro ainda preocupante de inadimplência entre os devedores e fragilidade entre os credores na economia brasileira. O ambiente de crescimento econômico no máximo moderado, combinado às elevadíssimas taxas de juros e a um sem-número de restrições ao crédito, torna ainda mais lenta e penosa a superação da atual crise financeira.
Querendo ser mais realista que o rei, quem sabe até fundar um "FMI do B" (seria o "fundo monetário interbancário do Brasil"), Camdessus contribui para minar mais um pouco a já combalida confiança de que desfrutam os bancos brasileiros. Mas sendo diretor-gerente do Fundo, desta vez não há quem possa puni-lo.

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