São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Casal acusa polícia e shopping de tortura

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O casal de namorados Luís Cesar Scwinzekel, 20, e T.A., 17, acusa a polícia e um shopping de São Paulo de tortura.
O casal foi detido no último dia 30, acusado de fazer compras em nove lojas do shopping Ibirapuera, em Moema (zona sul), utilizando notas falsas de R$ 50 e R$ 100.
O caso foi denunciado pela irmã de Scwinzekel, Rosângela, à Ouvidoria da Polícia de São Paulo e está sendo apurado pela Corregedoria da Polícia Civil.
Tanto a polícia quanto o shopping negam as acusações (leia textos abaixo).
Na noite do último dia 30, sábado, eles foram fazer compras no Ibirapuera. T.A. tinha na carteira R$ 1.200, em dinheiro, que disse ter ganho de um ex-namorado.
Eles já haviam gasto cerca de R$ 500 quando dois seguranças do shopping os abordaram e pediram para acompanhá-los à sala da segurança.
"Na sala, eles disseram que éramos ladrões e mandaram a gente confessar de quem havíamos recebido o dinheiro. Nós dissemos que não sabíamos que as notas eram falsas, e aí um dos policiais disse que a gente ia se arrepender", contou a garota, que disse ter levado um tapa de um policial.
Scwinzekel contou que foi levado para outra sala e que lá começou a apanhar. "Me davam socos e pontapés e falavam que, se eu confessasse, não iria para a delegacia. Como eu disse que não sabia de nada, eles nos levaram ao 15º DP (Itaim Bibi, zona sul)", disse o rapaz, que trabalha na área de vendas do "Jornal do Carreteiro do Brasil".
O casal chegou ao 15º DP por volta das 22h. "Nós fomos colocados juntos em uma cela, com outros dois presos", afirmou T.A.
"Nós pedimos para dar um telefonema, e um investigador disse que isso era coisa de novela, que nós não íamos ligar para ninguém", contou a garota.
Ela disse que foi transferida para o SOS Criança somente no dia seguinte, e seu namorado, encaminhado a uma cela forte.
Na segunda-feira, Scwinzekel disse que foi retirado da cela e levado para uma sala. "Eles disseram que eu não estava colaborando e que por isso ia me arrepender."
"Na sala, me suspenderam por uma barra de ferro, apoiada em duas mesas. Aí começaram a bater com cassetete nos meus pés e aplicar choque elétrico na pernas e nas nádegas. Eles colocaram uma música alta para abafar meus gritos e chegaram até a interromper a sessão de tortura para tomar sorvete e contar piadas", disse o rapaz.
À tarde, Scwinzekel conseguiu falar com sua irmã. Ela relatou o que havia acontecido ao ouvidor Benedito Domingos Mariano, que conseguiu que o rapaz fosse transferido para o 14º DP (Pinheiros). Uma semana depois, ele foi solto.

Texto Anterior: Loucuras na revisão
Próximo Texto: Corregedoria espera laudo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.