São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Quem rouba mais

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Pesquisa recentemente divulgada na França mede o custo do crime. Mede de uma maneira diferente da convencional. Em vez de se ater apenas a, por exemplo, número de roubos praticados em grandes lojas ou número de pessoas mortas violentamente a pesquisa traduz todos os dados sobre crimes em valores monetários.
Resultado, que talvez não surpreenda, mas é muito eloquente: o crime de colarinho branco custa infinitamente mais do que qualquer outro.
As fraudes fiscais, típico crime de colarinho branco, custaram ao Tesouro francês, em 1991, a exorbitância de 161,234 bilhões de francos (dá mais ou menos R$ 32,2 bilhões).
Os "atentados à vida humana" custaram menos da metade (entre 45,4 bilhões de francos e 59,8 bilhões). Note-se que a parcela maior do custo recai sobre o que a pesquisa chama de "atentados involuntários" (acidentes com veículos, principalmente), que respondem por 2/3 dos custos da rubrica.
Mesmo somando todos os tipos de roubos (lojas, supermercados, magazines especializados, roubos a indivíduos ou residências), não se chega a mais do que 15,3 bilhões de francos.
A pesquisa constata que a transformação em valor monetário de todo tipo de crime permite mostrar que "se superestimam as delinquências mais visíveis socialmente", que são também as mais perseguidas.
Ficam em segundo plano os chamados "crimes no espaço público" (como fraudes fiscais), até porque "são frequentemente sem vítimas diretamente individualizadas, mas que, embora raramente condenadas penalmente, se revelam muito custosas".
Se é assim na França, imagine-se no Brasil. Pena que aqui não haja um Cesdip como o francês (Centro de Pesquisas Sociológicas sobre o Direito e as Instituições Penais, órgão de pesquisa do Ministério da Justiça).

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