São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Zorra geral

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Podia parecer uma Grande Família, mais ou menos como na Máfia, não fosse o custo em dinheiro e vergonha que ela custa à nação. A semana foi gasta (em todos os sentidos) com a reforma que garante as reformas, que afinal se resume na única reforma que é reformar nada, exceto o preceito constitucional da reeleição.
A ridícula mudança ministerial, como até os paralelepípedos da rua Lins de Vasconcelos estão carecas de saber, é um dos preços que o governo está pagando pela CPI dos Bancos que não houve.
É impressionante como há cidadãos maiores de 18 anos, relativamente alfabetizados, certamente vacinados, que se empurram e se esbofam por uma cadeira de ministro -cadeira vazia, pois dificilmente terá oportunidade de executar um plano que aliás nenhum deles faz questão de ter.
Oficialmente, da boca para fora, os ministros dizem o óbvio: que o cargo de ministro pertence ao presidente -o que não deixa de ser verdade. Mas o presidente não se pertence porque foi eleito com o dinheiro e o apoio de vários segmentos da elite -e por isso tem aquilo que chama de "compromissos".
Em nome desses compromissos, o maior cacife que dispõe para prestar contas a esses segmentos é um conjunto de folhas mal-impressas em mau papel que atende pelo nome de "Diário Oficial". Um ministro só está na rua, em caráter oficial, depois da óbvia demissão publicada no diário também oficial.
Os ministros não gostam de ser demitidos via Embratel -que dispensa o citado papel. Daí a crise de choro da ex-ministra Dorothea que obrigou o presidente a visitá-la. E a tensão do futuro ministro Dornelles, que por pouco passaria o fim-de-semana em brasas, esperando o preto no branco. Como qualquer político sabe, palavra e interesse nacional são subordinados à moral da Grande Família que domina e explora a sociedade. Viva Fernando Quércia Maluf.

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