São Paulo, sábado, 27 de abril de 1996
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Mais burocracia

LUIZ M.S. HAFERS

Ainda sob forte emoção da tragédia do sul do Pará, a nação se debate em explicações e busca soluções. É então proposto um novo Ministério da Reforma Agrária como se fosse a falta de burocracia a razão do problema. Já foi tentado outras vezes e o resultado foi o mesmo: nenhum.
Precisamos de uma importante política agrícola onde estejam presentes o desenvolvimento, o aumento de área plantada, emprego com dignidade e também uma reforma agrária que possibilite a quem quer acesso à terra. Um atalho, um arremedo, para justificar uma ação que não foi tomada há anos, tapeia e não resolve. Uma boa indicação para esse posto não é suficiente.
Nos últimos 20 anos 1,2 milhão de gaúchos saíram de seus pagos para colonizar vastas áreas nos dois Mato Grosso, Goiás, Bahia e até no Maranhão. Sem nenhuma interferência do poder central, a não ser terem pago juros escorchantes.
Essa colonização é bom exemplo do que pode e deve ser feito. Lamentavelmente, a discussão tem empacado mais na expropriação do que no assentamento.
Não vejo como um novo ministério poderia mudar esse mau andamento. O próprio Ministério da Agricultura já é impotente para implementar questões claras e já resolvidas. A tensão no campo é mais abrangente. É um problema em que a propriedade da terra, por si só, não é nem causa nem solução.
É necessário a percepção da sua gravidade pela sociedade urbana para legitimar o Legislativo a compor com o Executivo. É complicado, difícil, mas democrático e possível.
Precisamos de ação curta, grossa e decisiva. Isso a iniciativa privada tem feito, pode fazer e é quem vai acabar fazendo. Não é um novo ministério, uma outra burocracia, por melhor que seja a intenção e capacidade de quem vai administrá-lo.
Sou contra um novo Ministério da Reforma Agrária. Sou a favor de fazer a reforma agrária da lei, da ordem e do progresso.

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