São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Pesquisa exibe quadro 'desastroso'

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diploma de ensino básico no Brasil ainda é privilégio de poucos e -pior- não garante a quem o detém o domínio de habilidades como o raciocínio e a crítica.
Resultados preliminares de uma pesquisa feita pelo Ministério da Educação mostram que aproximadamente 70% dos alunos das séries finais do 1º e 2º graus não sabem resolver problemas matemáticos. E só metade é capaz de formar juízo próprio sobre o que lê.
O MEC aplicou, em novembro, provas de português e matemática em 124,8 mil alunos de escolas públicas e particulares em 27 Estados e 639 municípios. O resultado preliminar, obtido pela Folha com exclusividade, é uma amostra da qualidade do ensino no Brasil.
"O quadro é desastroso", comenta o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Sua equipe não tem dúvida sobre a origem do baixo rendimento dos alunos: "O problema é o professor", diz a secretária de Ensino Fundamental, Iara Prado.
Mais de oito entre cem professores brasileiros do ensino básico nem sequer completaram o 1º grau. A média salarial, computadas as cidades do interior, fica abaixo do salário mínimo.
Nas salas de aula, a maioria dos professores se limita a exposições orais e ao uso do quadro-negro.
Não são muitos os que promovem debates e discussões ou que recorrem a atividades de pesquisa em sala de aula, segundo detectou o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) em relatório divulgado no ano passado.
"O ensino é mecânico, e as dificuldades aparecem quando o aluno enfrenta situações em que tem que raciocinar", observa Teresa Perez, da equipe encarregada de produzir uma nova proposta de currículo para o ensino de matemática no Brasil. A resolução de problemas terá prioridade.
Problemas de aprendizagem não são exclusividade do Brasil. Há 12 anos, um resultado bem parecido assustou autoridades dos EUA e deu origem a um documento chamado "A Nação em Risco".
Os alunos sabiam ler um texto e apreender o significado imediato da leitura, mas não conseguiam emitir um juízo próprio. O dado mais grave da pesquisa feita nos EUA coincide com a avaliação dos alunos brasileiros: o desempenho baixíssimo em matemática.
Escrita
Analisado por regiões brasileiras, o desempenho dos alunos foi pior no Norte e Nordeste. As regiões Sul e Sudeste saíram praticamente empatadas. Mas os problemas acontecem em toda parte.
Na próxima etapa da pesquisa, o MEC vai testar a habilidade dos alunos para a escrita e em conteúdos de ciências e estudos sociais.
A análise da qualidade do ensino no Brasil pode parecer um luxo diante das taxas de analfabetismo, repetência ou evasão escolar -essas deixam o país em melhor situação, apenas, que países como Bangladesh e Guiné Bissau.
A dois anos da data prevista pela Constituição para acabar com o analfabetismo no Brasil, há 17,2% da população acima de 15 anos que não sabe ler nem escrever. A meta ficou adiada para 2006.
Também em dez anos, Paulo Renato espera ver reduzidas em níveis internacionais (abaixo de um dígito) as taxas de repetência, hoje de 33% entre a 1ª e a 8ª séries e de 32% no 2º grau.

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