São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Pobres são as vítimas do ensino no país

DA REDAÇÃO

Um país com 19 milhões de analfabetos, onde só metade dos alunos termina a 8ª série do primeiro grau, estudantes não conseguem resolver problemas de matemática e um professor do ensino básico recebe em média R$ 78 já teria motivos suficientes para se envergonhar.
Mas, no Brasil, o quadro conta com uma pincelada extra de perversão. Aqui, a educação parece estar de cabeça para baixo: no ensino básico, que deveria ser a prioridade nacional, a excelência do ensino é privilégio quase exclusivo das escolas privadas.
Já nas universidades, as melhores instituições são públicas e gratuitas.
O exemplo da Universidade de São Paulo, considerada a melhor, é claro: 70% dos alunos vêm de escolas particulares.
Os mais ricos, portanto, capazes de arcar com o custo das escolas privadas, garantirão boa formação a seus filhos, que irão frequentar os bons cursos superiores gratuitos (leia à pág. 12).
Os mais pobres verão seus filhos submetidos a uma formação de pior qualidade, com dificuldades para superar concursos e ingressar nas melhores instituições públicas.
Verbas para ricos
É verdade que há exemplos localizados no país de experiências bem-sucedidas na educação básica (leia na pág. ao lado), como em Belo Horizonte, Fortaleza ou Porto Alegre. Mas o panorama geral, ninguém duvida, é crítico e desfavorável às camadas mais pobres.
"Quando se tem uma população mal educada é difícil convencê-la a lutar por algo que ela não conhece. Para a elite não há educação ruim", diz o economista Cláudio Moura e Castro, 57, chefe da divisão de programas sociais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Estudo do Banco Mundial, intitulado "Brazil, a Poverty Assessment" (uma avaliação da pobreza), mostra, com dados de 1990, a perversidade do gasto público brasileiro em educação.
Dividindo-se a população em cinco fatias, de acordo com a renda, a mais pobre fica com 16% dos gastos, a segunda com 18%, a terceira com 20%, a quarta com 22% e a quinta com 24%.
No Chile, os 20% mais pobres ficam com 35% dos gastos, e os 20% mais ricos recebem apenas 7%.
Não bastasse a incoerência, o governo estima atingir 30%, em algumas regiões, o percentual da verba que não chega à população.
Tal distorção é um dos alvos do projeto do governo para a área educacional (leia na pág. ao lado), que, apesar de pontos criticáveis, tem o mérito de tentar corrigir distorções aberrantes.
O governo prevê um investimento mínimo de R$ 300 por aluno do 1º grau. Atualmente é de R$ 260.

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