São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Empresas investem cada vez mais em escola básica nos EUA

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Em cerimônia na Casa Branca, em 1994, o empresário de comunicações Walter Annenberg chamou a atenção do país ao anunciar a doação de US$ 500 milhões para melhorar as escolas públicas, estimulando projetos experimentais.
Não provocou a curiosidade apenas pelos US$ 500 milhões, a serem descontados integralmente do Imposto de Renda -que é deduzido da renda bruta.
Os EUA têm uma longa tradição de polpudas doações empresariais a universidades, centros de pesquisas, museus, orquestras, hospitais, parques ou bibliotecas.
Chamou atenção porque o dinheiro era drenado a escolas públicas de cidades dos bairros pobres de Nova York e Los Angeles, onde imperam as gangues, pobreza, repetência e evasão escolares -e, em regra, as salas de aulas são povoadas apenas por minorias e negros, filhos de imigrantes ilegais.
Anneberg é a ponta de uma tendência crescente no país: o envolvimento de empresários para melhorar as escolas públicas por meio do treinamento de professores, melhoria das bibliotecas, informatização, auxílio médico, psicológico, artes.
Por todo o país, surgem projetos bancados por empresas como Microsoft, IBM, Kodak, Hewllet-Packard.
Algumas delas fazem doações para que se atinja a meta de que, até o ano 2000, não exista uma única sala de aula sem computador.
A rigor, US$ 500 milhões de Anneberg não é muita coisa. A cidade de Nova York gasta, por ano, US$ 8 bilhões (80% do orçamento no Ministério da Educação brasileiro) para mil escolas, onde estão matriculados 1 milhão de alunos. Nacionalmente, são gastos US$ 200 bilhões no ensino público básico.
A doação, entretanto, tem um efeito multiplicador, gerando modelos. Annenberg tem uma fundação que escolhe escolas pequenas, com professores dedicados de decididos a fazer experiências, mudando currículos, usando computador de forma original.
Uma das chaves é atrelar diretamente alguma Universidade para supervisionar os programas; prestam-se a fonte de reciclagem e crítica permanente.
Só em Nova York, existem 100 escolas que recebem essa verba, servindo de inspiração para educar meninos de famílias pobres; evitam que caiam na rua e, pior, no crime organizado. A pilotagem é feita pela Brown University.
A parceria dos empresários e escolas tem exibido resultado mesmo nos bairros mais violentos como Washington Heigths em Nova York -esse bairro já foi apelido de a capital do crime.
Lá, uma entidade chamada "Children's Aids Society", mantida por doações, resolveu entrar de parceria com a escola Salomé Urena.
Acompanhados pela Universidade de Fordham, a escola fica aberta até 22h, ajuda as famílias e dá toda a assistência social necessária aos alunos.
Com o envolvimento da família e atendimento aos alunos em seus problemas pessoais (drogas, gravidez, violência doméstica) o professor ficou liberado apenas para dar aulas.
O resultado é que a taxa de evasão despencou assim como a repetência. Os alunos demonstram na prova um nível de aprendizado semelhante ao de estudantes de escolas privadas.
Experiência semelhante é realizada na escola 144, do Harlem, cercada de violência e tráfico de drogas. Há um trabalho com a família, atendimento aos drogados, ensinam-se aos pais profissões e uso do computador. O projeto começou em 1992 e já se vêem efeitos nas notas dos alunos.
"A evolução é espantosa", diz Joseph Stuart, que administra o serviço social da escola 144.
Tanto a Microsoft como a IBM e Apple bancam projetos para treinar professores, pais e alunos em computação.
A Microsoft resolveu adotar integralmente escolas, fazendo experiências em informática.
Um grupo de 177 grandes empresas, entra elas AT&T e Johnson & Johnson se uniram e fizeram uma instituição para uma experiência: oferecem colônias de férias para alunos de famílias pobres.
Em meio ao lazer, estimulam ensino de ciência e matemática, colocando os meninos e meninos em contato com novidades tecnológicas. São enviados para essas colônias os melhores cientistas, técnicos e engenheiros das empresas.
A rede de TV ABC criou em Nova York salas, devidamente equipadas, para os alunos aprenderem como se produz um programa. O material é moderno e pilotado por profissionais.
O movimento é estimulado, de um lado, pela dedução fiscal, mas, de outro, pela convicção generalizada de que, numa economia globalizada, a mão-de-obra precisa ser preparada. "Hoje em dia, querem não apenas segundo grau, mas pelo menos dois anos de faculdade", analisa José Alexande Sheikmann, diretor da Faculdade de Economia de Chicago.

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