São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coréia tem gasto semelhante e resultado melhor

ANDRÉ LAHÓZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Com investimentos em educação semelhantes aos do Brasil, os chamados tigres asiáticos conseguiram resultados sociais e econômicos muito superiores.
A Coréia, por exemplo, gasta em educação cerca de 3,96% do PIB -número próximo ao do Brasil.
Lá, 97% dos adultos são alfabetizados, contra 81% no Brasil. O resultados nos demais tigres (Cingapura, Hong Kong e Taiwan) são igualmente altos.
"A diferença é que a Ásia concentra seus esforços na educação universal básica, enquanto que os países latino-americanos gastam em universidades", afirma Jim Rohwer, economista-chefe do banco CS First Boston na Ásia e autor do livro "Asia Rising".
A educação faz parte da estratégia de desenvolvimento dos tigres. A Coréia cresce a uma taxa média superior a 7% desde 1962. A expectativa de vida, de 53 anos em 1960, em 1994 estava em 71 anos.
Exportações
Parte do sucesso dos tigres se deve à opção de desenvolvimento voltado para as exportações, com forte ação estatal neste sentido.
"O governo coreano oferecia subsídios para empresas que conseguiam exportar. Muitas que não conseguiram morreram pelo caminho", diz Otaviano Canuto, professor de economia internacional da Unicamp.
A abertura externa trouxe dois grandes benefícios: produziu economias extremamente modernas e competitivas e permitiu que a produção não ficasse restrita ao mercado interno, muito pequeno na maior parte dos tigres. O Japão deu forte impulso a esses países.
Educação
O investimento em educação acompanha este processo. Os trabalhadores aprendem a lidar com tecnologia de ponta.
"Fundamental na educação é a perspectiva econômica. Na Coréia, valeu a pena se educar. Os benefícios são enormes", diz Canuto.
Outro ponto importante foi o gasto privado em treinamento de mão-de-obra e pesquisa tecnológica. A partir da década de 80, as empresas coreanas passam a responder por 80% deste gasto.
"Os asiáticos têm um vínculo muito forte com as empresas nas quais trabalham. Isso dá segurança para o empresário investir em treinamento", afirma o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, da Universidade de São Paulo.
O controle de gastos públicos e preços também foi importante. A taxa média de inflação coreana entre 1961 e 1991 é de 12% -uma das mais elevadas entre os tigres, mas muito inferior à do Brasil (115%).
Natalidade
Na Coréia, a taxa de crescimento populacional média na década de 60 era de 2,6% ao ano. Nos anos 80, despencou para 1,1%. Isso reduziu a pressão sobre os gastos.
Segundo Canuto, a modernização trouxe outra consequência: a democracia. "O autoritarismo tornou-se insustentável em meados dos 80." Os militares detinham o poder desde 1961.
(ALz)

Texto Anterior: Universidade deve ser paga, diz Nobel
Próximo Texto: Partidos governistas saem na dianteira
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.