São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Como impressões digitais

JANIO DE FREITAS

Menos de duas semanas antes de ser anunciada a reposição de apenas 15% para as aposentadorias, contra a perda de 20% com a inflação, o ministro Reinhold Stephanes deu várias entrevistas, publicadas pelo país afora, dizendo que a Previdência poderia fazer a correção pelos 20% da inflação acumulada. Mas não surpreende que ele passasse a dizer o oposto. Já está bem conhecido.
Outra comprovação, também publicada, de que a Previdência preparara-se para a correção de 20%, foi sua dotação orçamentária mandada ao Congresso no projeto de Orçamento do governo, referente a este ano. Lá estava prevista a correção de 20% nas aposentadorias.
Pelo rádio também
Em seguida à notícia de que a correção das aposentadorias será de apenas 15%, ou um quarto abaixo do devido, o cidadão teve a oportunidade de ouvir, outra vez, uma das propagandas que o governo vem fazendo das suas "reformas": "Se você está aposentado, com a reforma (da Previdência) sua aposentadoria pode até melhorar".
É a desonestidade escancarada, na falsidade do teor e na forma vigarista. Qualidades presentes em toda a série da propaganda, que não poupa nem a mais pobre gramática (o texto "o segundo passo é as reformas" representa muito bem o nível da série). E não estão menos à altura do espírito governamental a ilegalidade desta propaganda e a falcatrua de aparentá-la legal, apresentando o BNDES como co-patrocinador financeiro.
Banco oficial, ou seja, cujo controle é de propriedade pública, por isso seus cofres não podem fornecer dinheiro para propaganda política e ideológica, proibida pela Constituição também para o outro co-patrocinador, o governo federal.
A propaganda das "reformas" é, portanto, falsa no teor, vigarista na forma e inconstitucional nos meios e nos fins. Só não é incoerente em relação às "reformas" mesmas e aos patrocinadores.
Integração
Papel deplorável, na escroqueria constituída pela fixação e pela pretensa justificação do novo mínimo e das novas aposentadorias, foi mesmo o do ministro Pedro Malan. Apesar de tudo, até agora não se confundira com os que fizeram da desfaçatez o seu modo de ser.
A tentativa do ministro da Fazenda de impingir os 12% do mínimo como uma reposição honesta da inflação, e ainda mais em exposição pública, isso é melhor não qualificar. Nem é preciso, aliás.

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