São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Maioria dos pedintes é criança

MALU GASPAR; ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

As crianças são maioria entre os que pedem dinheiro nos semáforos de São Paulo.
A estimativa é do coordenador do programa SOS Criança, mantido pela Secretaria Estadual do Bem-Estar Social, Paulo Vitor. Segundo ele, há nos semáforos cinco crianças para cada adulto.
O levantamento feito pelo projeto Farol Não É Casa, da secretaria, constatou pelo menos 409 menores nos semáforos da cidade na virada do ano.
A pesquisa não contempla as crianças que vendem ou pedem fora de cruzamentos.
Pesquisa Datafolha de agosto de 1995 mostrou que, na época, 25% dos moradores de rua pediam dinheiro em semáforos, e 38% deles estavam na rua havia, no máximo, um ano.
Drogas e sobrevivência
Segundo Vitor, há dois tipos de crianças nos cruzamentos. As da região central da cidade, em geral, usam drogas e pedem para sustentar o vício. Nos bairros, elas costumam ter vínculos familiares e usam o dinheiro para sobreviver.
Vitor afirma que as crianças também são movidas por um consumismo "fora do comum". "Se você abordar essas crianças e perguntar sobre marcas de roupas e tênis, vai ver que elas sabem mais do que as de classe média."
Na opinião dele, embora não haja estatísticas, o número de pessoas nos semáforos aumentou muito nesses últimos meses.
"Não só nos semáforos, mas nas calçadas, como camelôs."
Radicais livres
Para o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), pedintes, vendedores e camelôs são "radicais livres" na estrutura de São Paulo.
"São pessoas que estão ali por razões sociais. A solução para sua situação e o eventual transtorno que causam deve, portanto, ser social", acredita.
Pedro afirma que faltam políticas sociais na cidade, que poderiam reduzir o impacto do aumento do desemprego causado pelas mudanças na economia.
Na opinião do coordenador do SOS Criança, uma das soluções para o problema é conscientizar as pessoas a não dar esmolas.
"Quando dá esmola, você evita o incômodo do momento, mas estimula a que venham mais crianças e adultos pedir nos semáforos, porque dá resultado. Dar esmola é falta de solidariedade."
(MGs e RSc)

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