São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Ganhos superam salário de contratados

DA REPORTAGEM LOCAL

Com ou sem estratégia de "marketing", os "profissionais" das ruas costumam ganhar bem mais do que trabalhadores com carteira assinada e salário mínimo.
O tempo de trabalho também é, geralmente, menor do que as 40 horas semanais determinadas pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).
O encarregado de limpeza José Tomás de Santana Filho, 54, por exemplo, ganha R$ 137 por mês trabalhando em uma loja da avenida Paulista (centro de SP).
Sua conta de luz está atrasada. Neste mês, Santana não conseguiu quitar a prestação do fogão. "Ganho tão pouco que nem os aumentos adiantam."
Num semáforo da avenida Sumaré há dois anos, Pedro Deodato Rodrigues, 30, usa o método tradicional de aproximação. Chega com a mão estendida, pede uma "ajuda" e, às vezes, diz que está desempregado.
Atuando das 8h às 13h, Rodrigues calcula faturar cerca de R$ 10 por dia. Como não trabalha aos sábados e domingos, ganha cerca de R$ 200 mensais, quase o dobro do salário mínimo atual (R$ 112,00).
50 por dia
Usando métodos com mais apelo, pode-se ganhar mais.
Os rapazes que esticam uma faixa pedindo ajuda para Neide, que dizem ser deficiente física e mental, chegam a lucrar R$ 50 por dia num semáforo (leia abaixo).
Eles não comprovam se a suposta enferma realmente existe, e nem sabem explicar quanto têm de arrecadar para comprar a cadeira de rodas que, dizem, Neide precisa.
Com o "trabalho" podem ganhar pelo menos R$ 1.000 por mês, se trabalharem só nos dias úteis.
Vantagem
"Muita gente que está hoje na rua deixou o emprego para ganhar mais pedindo. Quem vai pensar duas vezes antes de ganhar bem mais trabalhando menos?", afirma o coordenador do SOS Criança, Paulo Vitor.
Um exemplo é a ex-doméstica Ester Afonso dos Santos, que ganhava um salário mínimo e passou a limpar pára-brisas de carros nos semáforos com as três filhas.
"Aqui é muito melhor. Posso trazer meus filhos e, se precisar alimentá-los, pego dinheiro no sinal e compro alguma coisa. É prático."
Na opinião de Vitor, os empresários poderiam contribuir para evitar que trabalhadores troquem os empregos pela rua. "Eles deveriam distribuir melhor a renda entre os funcionários."

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