São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Afrouxo e arrocho

MARCOS CINTRA

Os indicadores que retratam a evolução de preços da cesta de bens e serviços de consumo mostram inflação superior a 20% nos últimos 12 meses.
O IGP-DI, da FGV, 13,02%; o IPC-DI, da FGV, 23,76%; o INPC, do IBGE, 20,05%; o IGP-M, da FGV, 12,87%; o IPC-M, da FGV, 22,01%; o IPCA, do IBGE, 20,55%.
Mas, para justificar o aumento do salário mínimo, o governo tomou como referência o IGP, de cerca de 13%, que não contempla apenas aquela cesta, fixando-o em 12%. O índice inclui preços irrelevantes para o assalariado, como construção civil e comércio atacadista.
Não há razão macroeconômica plausível para o aumento. Senão a adoção deliberada do arrocho salarial, que penaliza a classe de baixa renda. Ao conter a expansão do poder aquisitivo e da demanda agregada, o novo mínimo aprofunda o desaquecimento da economia e impede a retomada do nível de emprego.
A política salarial contradiz a monetária, de redução de juros e ampliação dos prazos de financiamento. De nada resolve melhorar as condições de financiamento se a massa de salários não pode viabilizá-las. Afrouxa-se de um lado, e arrocha-se de outro.
O que fica desse episódio é que a ineficiência do setor público impede-o de reduzir gastos e caminhar rumo ao equilíbrio orçamentário. E, na esteira desse fracasso, é o trabalhador quem paga a conta.
Parece faltar ao governo determinação e competência políticas para driblar os embaraços político-partidários e corporativos e aprovar as reformas estruturais, encerrando o impasse em que a falta delas coloca a economia, a sociedade, o Plano Real e a própria governabilidade.

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