São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Naufraga pacto de telecomunicações

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A ordem é liberalizar, desregulamentar e privatizar. E ninguém duvida que se trata do setor econômico mais dinâmico desse final de século: telecomunicações. Mas não há consenso, nem regras claras, nem horizontes definidos.
Na semana passada, naufragou a mais importante tentativa de criar um pacto global pela liberalização das telecomunicações, orquestrada pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Coincidência curiosa, na mesma semana anunciou-se pela terceira e provavelmente última vez o fracasso nas negociações em torno da fusão entre a British Telecommunications (BT) e a Cable & Wireless, as duas maiores empresas telefônicas da Inglaterra. A fusão poderia ter criado uma das maiores empresas de telecom do planeta. Seria como um "casamento no céu", na expressão entusiasmada de um agora frustrado executivo envolvido nas negociações.
Colcha de retalhos
Motivo fundamental para o naufrágio do negócio: a ausência de regras globais claras para o setor. Segundo uma declaração divulgada pela BT, "os riscos, nessa etapa, superaram as oportunidades prospectivas". Não é pouco, considerando-se que se trata do setor com mais "oportunidades prospectivas" do planeta Terra.
Os executivos afirmaram ter sido impossível avaliar quanto tempo levaria para a fusão em escala global passar por variados esquemas de regulamentação setorial em Hong Kong, Pequim, Bonn, Londres, Bruxelas e Washington. Houve temor, em especial, das possíveis exigências da Federal Communications Commission (FCC) dos Estados Unidos.
Em resumo, apesar de o setor abrigar as mais entusiasmadas e proféticas convicções no mundo inteiro, as regras, o campo de jogo e o potencial de colusão nos mercados ainda são incertos.
As duas empresas prometeram, por exemplo, continuar colaborando em escala global, seja lá qual for o significado disso. Mesmo porque em alguns países as duas companhias inglesas já têm alianças estratégicas com empresas locais que são concorrentes.
Engana-se quem imagina que a colcha de retalhos na regulamentação global das telecomunicações logo vai ser superada.
US$ 500 bi em jogo
O responsável por comércio da União Européia, Sir Leon Brittan, acusou o governo dos EUA de inviabilizar o pacto global por motivos eleitorais, lamentando o que julga uma chance perdida para a criação de uma "sociedade da informação global" e um retrocesso para o comércio multilateral.
Os americanos, por sua vez, atacaram os canadenses e os asiáticos. Brasil, Austrália e Suíça ainda discutem suas leis para o setor e mercados gigantes, como a Índia, são ainda claramente protecionistas.
Entre outras atitudes dos EUA que envinagraram o acordo está a resistência à abertura do seu mercado de serviços via satélite à concorrência internacional.
O resultado foi o adiamento por dez meses de um possível acordo em favor da liberalização global das telecomunicações, depois de dois anos de conversações.
Em jogo, um mercado que se estima em mais de US$ 500 bilhões.

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