São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Ex-campeão promove os artistas jovens

MILTON ESTEROW
DA "ARTNEWS"

O gosto de John McEnroe em relação à arte mudou, desde os tempos em que ele observava pinturas entre os jogos dos torneios até se tornar dono de galeria.
Durante uma temporada de tênis, o artista plástico Meisel fez uma lista com três galerias em cada uma das 12 cidades que o tenista iria visitar no continente europeu. O ano era 1980.
"Quando ele voltou para Nova York, disse: 'Não vi só aquelas galerias, mas umas 30' ".
"Não havia notado a arte contemporânea até então", conta McEnroe.
"Simplesmente não me chamava a atenção. O grande salto no meu aprendizado veio nos últimos cinco anos", relata.
"Aconteceu quando eu encontrei artistas como Eric Fischl. Eu ia a galerias em Los Angeles e no Soho regularmente. Foi agradável e recompensador."
"Tudo era novo e interessante. Eric falava sobre pintura, sobre a luz, a profundidade. E eu perguntava para ele: Como você acha que o cara fez isto? Quais foram seus motivos?"
Estagiário
Em 1993, McEnroe fez estágio na Salander-O'Reily, galeria de Nova York administrada por Lawrence Salander, que também é um artista.
"Larry viu que eu estava mal e lutando contra minha situação pessoal -minha mulher e eu tínhamos nos separado-, e disse: 'Por que você não vem e se mantém ocupado, aprende mais sobre arte e trabalha comigo?'."
"Larry não estava me pagando nada, mas estava me dando oportunidade de ir a estúdios com ele" lembra McEnroe.
"Estaria com ele em reuniões, vendo toda a arte escondida do grande público. Uma vez fui com ele ao estúdio antigo de David Smith (escultor norte-americano, adepto da arte conceitual), no norte de Nova York. Comecei a ver as esculturas de maneira diferente."
"Disse: 'Meu Deus'. Então eu vi 'Picasso e a Era do Ferro', no Guggenheim. Achei que tivesse sido a maior exposição de minha vida. Não podia crer. Passei a me interessar mais por escultura."
Galerista
"Parei de trabalhar com Larry no verão de 1993 e disse para mim mesmo: 'O que vou fazer agora?' Tinha comprado este 'loft' para morar e então comecei a pensar que talvez devesse ter uma galeria de arte."
A galeria abriu em dezembro de 93. Durante todo o ano de 94, McEnroe manteve uma política de "apenas com hora marcada", pois queria evitar pessoas que só estavam atrás de um autógrafo.
Em maio do ano passado, a galeria abriu para o público com uma exposição de guaches de Emil Nolde (pintor alemão, considerado um dos maiores representantes do expressionismo. Foi perseguido pelo governo nazista na época da 2ª Guerra Mundial).
A atual atração da galeria é a exposição "20th-Century Nudes" (nus dos século 20), que inclui trabalhos de Fischl, do impressionista francês Albert Marquet e do californiano Richard Diebenkorn, de tendência abstracionista.
No mês que vem, serão apresentados artistas britânicos contemporâneos.
"Passei os últimos dois anos tentando encontrar um tema que fosse confortável de trabalhar", diz McEnroe.
Revelações
"Eu me sinto um pouco desconfortável em dizer para alguém 'Compre isso ou compre aquilo!'. Eu gosto primeiro de semear antes de começar a fazer. Eu tenho toda a minha vida."
"Eu fui jogador de tênis ininterruptamente por 15 anos. Mas não me sinto à altura de algumas pessoas que conhecem muito sobre arte. Sinto-me como um pequeno peixe numa grande lagoa. Antes, eu era um grande peixe numa lagoa menor."
"Uma coisa que eu sinto, e na qual eu realmente acredito, é que eu estou representando os artistas jovens. Eu pessoalmente queria comprar os trabalhos deles. Em toda exposição que eu promovo há quadros que eu compraria."
"Eu acredito que, se você não tiver uma exposição que você ama cada peça, você precisa mudar isso. Eu estou tentando ser mais aberto em relação a isso."
"É muito fácil criticar. Mas é difícil reconhecer um bom trabalho. Picasso não fez tudo certo em sua carreira por todo o tempo. Eu cometi muitas duplas faltas na minha carreira."
Lições
McEnroe teve até aulas de desenho. Há alguns anos, ele e Fischl fizeram um acordo para uma troca. McEnroe recebia aulas de desenho, e Fischl, aulas de tênis.
A experiência não chegou a ser um sucesso. "Acho que fui melhor nas aulas de tênis do que ele nas de desenho", diz Fischl.
McEnroe diz que arte e música o ajudaram como pessoa. "Ponho música e arte na categoria que usa o lado oposto do cérebro. Há o lado competitivo, intenso, da vitória a qualquer custo. E há o da família, crianças, perfume das rosas. Coloco música e arte nesta categoria."
"É novo para mim, mas é um prazer olhar para uma obra de arte, ouvir uma música. Me acalma, não preciso ficar mais ligadão".
Ligadão?
Pausa, e então o Big McEnroe sorri. "Sim, ligadão. Nasci ligadão. Preciso diminuir a velocidade."

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