São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Destruição do ambiente atrai aves aquáticas para Cubatão

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

A poluição ajudou a transformar Cubatão em um dos maiores viveiros naturais de aves aquáticas da América do Sul.
Nos manguezais da cidade do litoral paulista, uma das regiões ambientalmente mais degradadas do país, dois biólogos brasileiros observaram um número de espécies cinco vezes maior do que o notado na década de 1910. Algumas delas correm o risco de extinção ou eram consideradas extintas no Estado de São Paulo desde 1897, como o gavião asa de telha.
Segundo Fábio Olmos e Róbson Silva e Silva, autores do estudo, a destruição da Serra do Mar e a dragagem dos mangues para a instalação de indústrias teria criado o refúgio das aves (leia texto abaixo).
Numa área de 50 quilômetros quadrados foram catalogadas 146 espécies de aves -86 delas aquáticas. Esse número é superior às cerca de 50 espécies encontradas no Pantanal mato-grossense -uma região 2.800 vezes maior do que a dos manguezais de Cubatão.
"Se Cubatão ficou conhecida como o 'Vale da Morte', os seus manguezais são hoje o grande pântano da vida", diz Olmos, do Instituto Florestal de São Paulo.
Segundo o estudo, iniciado em 93, a descaracterização dos mangues -que no início do século ocupavam uma área de 131 quilômetros quadrados- criou bancos de lodo (espécie de lama), onde "explodiu" uma gigantesca população de moluscos e crustáceos, base da alimentação das aves.
Esse processo teria começado na década de 50, quando as primeiras indústrias começaram a se instalar na região. Hoje, as 23 indústrias de Cubatão lançam na atmosfera mais de 30 mil toneladas de poluentes por ano.
A descoberta
Em 1984, um estudo do pesquisador Werner Bokermann chamou a atenção dos cientistas.
Bokermann avistou nos mangues de Cubatão uma colônia de guarás, ave ameaçada de extinção e considerada desaparecida das regiões Sul e Sudeste do Brasil desde a década de 50.
Até então, guarás só eram encontrados no litoral dos Estados do Maranhão, Pará e Amapá. O redescobrimento dos guarás em Cubatão foi o primeiro passo para as pesquisas de Olmos e de Silva.
O trabalho dos biólogos, que se limitava ao estudo do guará, foi então acumulando dados surpreendentes, como o redescobrimento do gavião asa de telha. Um exemplar coletado no final do século passado encontra-se atualmente no museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
Hoje, vivem nos mangues de Cubatão quatro espécimes do gavião asa de telha, um dos quais monitorado por radiotelemetria, o que permite sua precisa localização dentro da área e um estudo detalhado do seu comportamento.
Nos mangues de Cubatão (cujas formações adjacentes se estendem pelos municípios de São Vicente, Santos e Bertioga), os pesquisadores localizaram também águias-pescadoras vindas da região nordeste dos Estados Unidos.
"Seguramente, é a maior concentração dessas águias ao sul do Amazonas", afirmou Olmos. Segundo Silva, são registrados de 12 a 15 exemplares dessa ave entre os meses de outubro e abril.
Extinção
Aves recentemente retiradas da lista internacional de animais sob risco de extinção, como o falcão peregrino, anilhado (isto é, com um anel de identificação que permite acompanhar sua migração) na Groenlândia e Alasca, foram avistadas e capturadas pelos biólogos nos manguezais de Cubatão.
Milhares de maçaricos, vindos do Alasca, Canadá e Groenlândia se reabastecem nos mangues, no curso de sua migração anual. Segundo os biólogos, grandes grupos de maçaricos só haviam sido registrados no Rio Grande do Sul.

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