São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Glauber neoliberal

Carta inédita pede "desestatização" de todo aparato cultural

DA REDAÇÃO

Um documento histórico de grande proporção para a cultura brasileira contemporânea vem à luz. Trata-se de uma carta do cineasta Glauber Rocha, mantida em sigilo durante 15 anos e agora publicada com exclusividade pela Folha nesta edição do Mais!.
Datada de 9 de abril de 1981, quatro meses antes da morte de Glauber, a carta é dirigida ao então presidente da Embrafilme, Celso Amorim. Ela expressa posições surpreendentes do principal diretor do Cinema Novo -movimento cinematográfico dos anos 60 que influenciou de maneira decisiva a cultura brasileira.
O documento revela o lado "não-oficial" das posições mantidas pelo cineasta, que sempre zelou pela manutenção da Embrafilme -estatal do cinema que os cinemanovistas ajudaram a criar- e pela coesão dos membros do Cinema Novo. A carta é também premonitória e diagnostica a crise que o cinema e as instituições culturais brasileiras enfrentariam a partir dos anos 80. Em 1990, o governo Collor extinguiria as entidades que Glauber pede que sejam "desestatizadas", entre elas, a Embrafilme.
Na carta, Glauber Rocha surge relativamente neoliberal, defendendo medidas "reagueanas" (referência ao presidente Ronald Reagan) de "desestatização de todo aparato cultural". Afirma que "o Estado já cumpriu sua missão". Condena o decreto de obrigatoriedade de exibição de filmes brasileiros ("uma chantagem"). Manifesta com veemência sua irritação com os rumos tomados por seus colegas-cineastas, como Leon Hirszman, Arnaldo Jabor e Ruy Guerra. Profetiza: "Não existe, segundo a burrice local, incompatibilidade entre indústria e cultura. O problema é que não existem projetos industriais nem culturais. O atual modelo cinematográfico é influenciado pela Globo e está aquém de Hollywood. Todos temem tomar decisões".
O documento faz parte do acervo do Tempo Glauber, dirigido por Lúcia Rocha, mãe do cineasta (leia entrevista à pág. 5-8), e será editado em livro, ainda sem data prevista (leia texto abaixo).

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