São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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China lança ofensiva para 'salvar' orfanatos

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China lançou uma ofensiva contra a situação da infância nos Estados Unidos. O motivo: as denúncias que vem surgindo desde o início do ano contra os orfanatos da própria China, que estariam criando "quartos da morte".
Nesses locais, as crianças seriam deixadas sem cuidados, para que morressem (leia texto abaixo).
Segundo a versão chinesa, as acusações de "quartos da morte" foram fabricadas por organizações hostis à China e a situação das crianças melhorou nos últimos anos, embora haja dificuldades.
O discurso oficial diz que os norte-americanos que se preocupam com as crianças chinesas devem "deixar de ser indiferentes em relação aos sérios problemas das crianças nos EUA".
A estratégia também incluiu convite a jornalistas para visitar o Instituto de Bem-Estar das Crianças de Xangai, principal acusado em um relatório do Human Rights Watch/Asia sobre a situação da criança na China.
Jornalistas passearam por um orfanato limpo, bem cuidado e com crianças de aparência saudável. Mas os jornalistas tiveram negado pedido para visitar outras instalações do orfanato.
A China também questionou os objetivos de Zhang Shuyun, uma ex-funcionária do orfanato de Xangai que denunciou a existência dos "quartos da morte".
Zhang foi acusada pelo governo de buscar vingança por fracassar em sua tentativa de se tornar diretora do orfanato de Xangai.
Em fevereiro, o "Diário do Povo", porta-voz do PC chinês, enfileirou dados sobre a situação das crianças nos EUA. Disse que o número de crianças vítimas de crimes violentos quadruplicou entre 1985 e 1995, e que 20% das crianças vão à escola com uma arma. O "Diário do Povo" foi mais longe: em 1993, 23% das crianças viviam em estado de pobreza. Entre a população negra, a cifra subia para 44,8%. "Esses fatos mostram que os EUA carregam situação precária das crianças", disse o jornal. "Esperamos que o governo tome medidas para melhorar o quadro".
O contra-ataque chinês ganhou novo fôlego no começo do mês passado, com a publicação de um levantamento do governo sobre a situação das crianças no país. "A China tem feito esforços gigantescos para garantir a sobrevivência, proteção e desenvolvimento dos 300 milhões de crianças com menos de 16 anos", disse o relatório.
Mas o governo admitiu problemas, ao afirmar que "alguns orfanatos têm melhor administração que outros". Disse que a China, por ser um país em desenvolvimento, enfrenta dificuldades para criar alguns programas sociais.

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