São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Reforma pretende reduzir os poluentes nos rios

DA "NEW SCIENTIST", EM JOHANNESBURGO

Com a reforma das leis hídricas da África do Sul, o governo espera também poder lidar com o problema da poluição dos rios nacionais.
Como resultado de práticas e tecnologias agrícolas antiquadas, muitos rios sul-africanos estão carregados de sedimentos, fosfatos, nitratos e outros poluentes.
As fazendas do vale do rio Olifants, por exemplo, utilizam grandes quantidades de agrotóxicos e enormes sistemas de irrigação que pulverizam água indiscriminadamente sobre grandes superfícies.
Isso provoca uma salinização acentuada à medida que a água evapora, deixando para trás nitratos e fosfatos concentrados. O pequeno volume de água que corre de volta dos campos para os rios é altamente contaminado.
Segundo David Cooper, diretor do Centro de Políticas Fundiárias e Agrícolas, a África do Sul constitui um exemplo típico de um problema internacional: "Mais de um milhão de hectares de terra pelo mundo afora se perde todos os anos por causa da irrigação com água salina". Na Província de Gauteng, diz ele, as terras agrícolas estão sendo irrigadas com águas de rios que já contêm alta concentração de sais.
A condição do rio Olifants é semelhante à de muitos outros. Em sua foz, cerca de 150 km a leste de Johannesburgo, o rio é cercado por depósitos de carvão que provocam infiltração de enxofre e outras toxinas industriais para a água. O rio flui em direção norte, passando por outras minas de carvão, até a barragem de Witbank, onde há uma grande usina elétrica movida a carvão.
A usina foi construída às margens da barragem para poder utilizar sua água para refrigeração. Mas, nesse ponto de seu percurso, o Olifants já é tão poluído que a água cria uma camada grossa de sujeira sobre as torres de refrigeração que está ameaçando corroê-las. Por essa razão, a usina está tendo de buscar milhões de litros de água por semana de outro reservatório, a 250 km de distância.
Depois de Witbank, o rio Olifants continua em direção norte, passando por mais minas de carvão até atingir a barragem de Loskop, perto de Moutse. Depois, passa por vários povoados degradados até cair em Phalaborwa e no Parque Nacional de Kruger.
No parque, a carga de sulfatos, fosfatos e sólidos suspensos contida no rio provoca periódicas mortes maciças de peixes, que por sua vez já causaram a extinção de várias espécies raras de aves que se alimentam dos peixes.
Como parte da reforma hídrica, o governo está promovendo sistemas de irrigação por micropulverização e gotejamento para impedir a formação de poças de água em excesso. A meta é a redução da poluição e do desperdício de água.
Pagamento antecipado
Guy Preston, ecologista hídrico e assessor especial de conservação do ministro de Recursos Hídricos, passou os últimos dois anos adaptando novos chuveiros, torneiras e descargas americanos às condições sul-africanas. "Um único banho de chuveiro de dez minutos tomado nos subúrbios das grandes cidades consome cerca de 200 litros de água, o suficiente para suprir as necessidades diárias básicas de oito pessoas na zona rural", diz Preston. Ele está desenvolvendo um medidor especial de água que funcionará à base de pagamento antecipado e que poderá ser instalado nas casas dos subúrbios pobres, cujas administrações estão tendo dificuldade em fazer os habitantes pagar pelos serviços.
"Calculamos que a água fornecida pelo sistema custa 30 vezes menos do que a água comprada dos vendedores", diz Louis Blom, um dos engenheiros que ajudou a criar o medidor. "Outra vantagem é que o sistema garante uma maneira transparente de recolher fundos para financiar o serviço."

Tradução de Clara Allain

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