São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Morrer pelo Líbano é glória para xiitas

Libération
de Paris

FRANÇOISE CHIPAUX
EM JIBCHIT, SUL DO LÍBANO

"Os israelenses têm aviões e helicópteros. Nós só temos isso", afirma Ali, membro do grupo xiita Hizbollah, apontando para dois rapazes que atravessam o deserto de Jibchit em motos.
Nesse reduto do Partido de Deus, onde os retratos dos aiatolás Khomeini e Khamenei (antigo e atual guias espirituais do Irã) disputam espaço com os dos mártires, só sobraram combatentes.
O silêncio é rompido por três estampidos secos seguidos de um assobio, vindos de menos de cem metros de onde estamos. "Não tenha medo, somos nós", sorri Ali.
Três foguetes Katiucha acabam de ser lançados, e os jovens atravessam o povoado nas motos, novamente em alta velocidade. "Os aviões já vão chegar. É melhor irmos para o abrigo", diz Ali.
O abrigo é um bar no centro da cidade. O primeiro avião israelense aparece quatro minutos depois do disparo dos foguetes e atira sua bomba, sendo seguido por outro.
Vida O bombardeio dura 20 minutos, durante os quais Ali conta um pouco da história de sua vida.
É casado, pais de quatro filhos. Aos 31 anos, dos quais 13 na resistência e um ano e dois meses em prisões israelenses, foi ferido duas vezes. "Não tenho medo porque, se eu morrer, vou para o paraíso".
Ali faz críticas acirradas ao presidente libanês, Elias Hraui, que em seu discurso na ONU falou nos "mortos" de Qana, não nos "mártires". "Se não fosse pelo presidente sírio, Hafez al Assad, os políticos libaneses teriam pactuado com o inimigo israelense. Todos nós estamos do lado da Síria." E o Irã? A crer em Ali, "não há problemas entre Síria e Irã".
Para cortar o reabastecimento de armas do Hizbollah e interromper os disparos de foguetes contra o norte de Israel, as forças israelenses bombardearam estradas e pontes do sul do Líbano.
Mas essas medidas pareceram não ser muito eficazes diante da mobilidade de combatentes que conhecem bem o terreno e se deslocam rápido nas motos. Mas a destruição impediu a passagem dos comboios humanitários, que supriam alimentos aos povoados isolados pelo ataque.

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