São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Estudo aponta desarmamento recorde

ALISON MOTLUK

DA "NEW SCIENTIST"

Redução de arsenais é a maior desde a Segunda Guerra, apesar de exceções do Sudeste Asiático

Cortes maciços promovidos no setor militar nos últimos dez anos resultaram em um nível de desarmamento jamais visto desde o final da Segunda Guerra Mundial.
É o que informa relatório publicado pelo Centro Internacional de Conversão, de Bonn (BICC). Mas alguns países estão remando contra a maré, aumentando seus arsenais em ritmo veloz.
O relatório mostra que, desde 1985, orçamentos, armas e pessoal militares foram reduzidos em mais de 20% no mundo inteiro.
"É pouco provável que vejamos outra queda global tão grande quanto esta no futuro próximo", diz Michael Brzoska, coordenador da pesquisa.
Tigres asiáticos
O crescimento das forças militares de alguns países do Sudeste Asiático, entre eles Malásia, Tailândia e Indonésia, acompanhou seu crescimento econômico. A Coréia do Sul aumentou suas Forças Armadas em 17%. "Essa é definitivamente uma região que contraria a tendência geral", disse Brzoska.
Ele também se mostra preocupado com os EUA, que, embora tenham se comprometido com o desarmamento mais do que a maioria dos países, mantiveram um nível muito alto de pesquisa e desenvolvimento militares.
O relatório afirma que metade dos financiamentos americanos de pesquisa são canalizados para projetos militares. "Hoje em dia, os gastos militares nos EUA estão mais altos do que em qualquer momento nos anos 50, 60 ou 70", diz Brzoska. "E o Congresso pretende incrementá-los."
As cifras atingiram seu pico, com 60%, no governo Reagan. Entre 1887 e 1997 os EUA terão demitido 120 mil engenheiros, 22 mil cientistas e 95 mil técnicos.
Avaliação
O BICC recolheu dados sobre despesas militares, armas, o tamanho das Forças Armadas de cada país e o número de pessoas empregadas na indústria de armas.
Para avaliar até que ponto cada país tinha se desarmado, o grupo comparou os dados de 1994 com a média referente a 1985-93.
Em seguida, calculou um "índice de desarmamento", mostrando a mudança percentual nos recursos militares de cada país.
Um país que tivesse se desarmado completamente, por exemplo, receberia nota cem; um que tivesse se rearmado completamente, partindo do zero, tiraria menos cem.
O país que mais se desarmou foi a Nicarágua, na América Central. O governo nicaraguense reduziu seu setor militar em 73%.
A Nicarágua é um de vários países -entre os quais Etiópia, em 4º lugar, El Salvador, em 11º, e o Iêmen, em 14º- que se desarmaram depois de anos de conflitos.
O Iraque também faz parte dessa categoria, chegando em segundo lugar. Durante a guerra contra o Irã (1980-88) o país consolidou uma força militar enorme, mas depois de ser derrotado na guerra do Golfo, em 1991, deu início a um programa desarmamento.
Muitas dos cortes, especialmente nos setores de armas nucleares, biológicas e químicas, foram feitos porque a ONU obrigou o Iraque a isso. Mas o relatório avisa que mesmo com esses cortes o país de Saddam Hussein continua sendo um país fortemente militarizado.
Na lista do desarmamento, 7 dos 15 primeiros colocados ficam na Europa Oriental, que desde o final da Guerra Fria testemunhou uma redução maciça em suas Forças Armadas.
Bulgária, Hungria, Rússia, Polônia, Eslováquia, República Tcheca e Eslovênia reduziram seus setores militares em mais de um terço. O fim da Guerra Fria também levou os EUA e o Reino Unido a reduzirem seus setores militares.
O último da lista é o Sudão, com nota -44, precedido de perto pela Croácia, Serra Leoa, Sri Lanka e Myanma, países em conflito.
Barreiras
O relatório informa que o desarmamento vem mostrando ser um processo muito mais difícil e caro do que se previa.
A conversão de bases militares e o desmantelamento de armas exigem investimentos imensos.
Mas o BICC acredita que apesar disso os cortes globais de armas liberaram verbas de até US$ 750 bilhões só em 1994.
Apesar disso, o tão falado "dividendo da paz" -a montanha de dinheiro que deveria ter sido desviada de usos militares para usos sociais- acabou não se concretizando.
"Foi engolido, em sua maioria, pelos governos que procuram reduzir seus déficits", diz Michael Brzoska, o coordenador da pesquisa. "Mas a maioria dos economistas diria que essa não é a pior maneira de gastar esse dinheiro", afirma Brzoska.

Tradução de Clara Allain

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