São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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O PERIGO DO IMEXÍVEL

Nada é mais perigoso, na política, que considerar-se "imexível". A crença no "status quo" é um vício próprio a quem está no poder. Esse é justamente o vício que hoje ameaça as autoridades econômicas.
O ministro Malan, da Fazenda, por exemplo, considerou uma piada a reportagem da revista norte-americana "Business Week" sugerindo que no Brasil poderia ocorrer uma desvalorização cambial de 25%. O ministro do Planejamento, José Serra, por sua vez, também fez ginástica para dizer que o crescimento vigoroso da economia dos EUA será benéfico para o país, embora a forte elevação de juros americanos talvez tenha efeitos graves sobre a economia brasileira.
Já os malabarismos do presidente do BC, Gustavo Loyola, para camuflar a lassidão progressiva da supervisão são notórios há tempos.
Há cada vez mais tensão nos esforços de persuasão das autoridades. Não se trata de discutir se a projeção de máxi de 25% é de um economista ou "deseconomista", como ironiza Malan. O fato é que há dúvidas sobre a viabilidade dessa taxa de câmbio por muito tempo. A previsão pode estar errada, mas o alerta é oportuno.
Aliás, o perigo aumenta à medida que sobem os juros de longo prazo nos EUA. Afinal, o câmbio brasileiro depende dos bilhões de dólares que aportam aqui em busca de ganhos tão extraordinários quanto arriscados. Mas, quanto mais altos os juros no centro, menor o apetite por riscos na periferia da economia global.
Loyola garante que está tudo sob controle. Mas, se controlar é manter juros altos, também aí há lugar para ansiedade. Pois os bancos sofrem com uma quebradeira no setor produtivo, que não recuará se os juros não recuarem. O meio de controle, assim, pode gerar descontrole.
Assim, o mais perigoso é uma autoridade considerar a política econômica "imexível". Quando e como mexer, porém, continua sendo algo extremamente polêmico e arriscado.

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