São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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PARADOXO DA POLUIÇÃO

A ação do homem sobre o ambiente produz paradoxos insuspeitados. A degradação ambiental sempre foi sinônimo de morte da fauna e da flora e, enfim, do homem. Mas não é o que se verifica em Cubatão, uma das regiões mais poluídas do planeta.
Como revela o caderno Mais!, o trabalho de biólogos mostra que a população de aves nos mangues de Cubatão quintuplicou em relação à observada na década de 10. Numa área de 50 km2, foram observadas 146 espécies, sendo 86 delas aquáticas. A título de comparação, no Pantanal mato-grossense, região 2.800 vezes maior que a dos mangues de Cubatão, contam-se 50 espécies aquáticas.
A explicação para o surgimento desse verdadeiro viveiro ornitológico é justamente a industrialização da região, iniciada na década de 50. Para a instalação das fábricas, os mangues foram dragados e a lama foi sendo depositada nas margens dos canais. Depois, a poluição destruiu parte das encostas da Serra do Mar, cujos sedimentos minerais foram levados pela chuva até o lodo. Na maré baixa, essa lama enriquecida fica exposta ao sol, criando ambiente propício para a proliferação de algas que alimentam moluscos, vermes e crustáceos, os quais, por sua vez, são importante fonte de nutrição das aves.
Antes, porém, de comemorar a poluição e propor a industrialização em massa dos manguezais para salvar os pássaros -o que seria ridículo-, é preciso atentar para os graves riscos desse falso santuário ecológico.
As indústrias de Cubatão despejam 30 mil toneladas de poluentes por ano, incluindo os perigosíssimos metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio e manganês, capazes de provocar mutações genéticas.
Um estudo com rãs da região mostrou que 75% delas apresentavam lesões nos rins, fígado e intestinos, além das mutações genéticas. No caso das aves a situação é pior, porque elas migram percorrendo milhares de quilômetros podendo "envenenar", pela reprodução ou quando devoradas por outros animais, espécies de outros ecossistemas tão longínquos como a Groenlândia. Seria a exportação, via aérea, da poluição de Cubatão para o mundo.
Como se vê, a natureza procura sempre se adaptar, mas nada garante que ela será capaz de vencer as armadilhas montadas -advertida ou inadvertidamente- por uma de suas mais notáveis criaturas: o homem.

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