São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Pior para todos

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A violenta reação do mercado financeiro norte-americano às notícias sobre a expansão da economia só reforça a tese de que a obsessão antiinflacionária está indo longe demais.
Quanto cresceu a maior economia do mundo? Meros 2,8% anualizados, no primeiro trimestre do ano.
Qualquer análise fria dirá que não se trata de um número extraordinário. Nos anos 70, por exemplo, a média de crescimento anual dos EUA era superior a 3%.
Mesmo em épocas mais recentes, houve crescimento mais significativo, como, por exemplo, os 3,1% de 1993 ou os 4,1% de 1994. Nem por isso disparou a inflação. O aumento dos juros surge, exatamente, do pressuposto de que, com crescimento supostamente robusto, é inevitável que venham pressões inflacionárias.
Ora, a inflação, nos EUA como nos países industrializados em geral, está baixíssima e vai se manter assim, segundo todos os prognósticos. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, prevê inflação anual de 2% ou até menos para 96 e 97.
O nível atual, em torno de 2%, é o mais baixo desde meados dos anos 60.
O mais provável é que a reação dos mercados seja acompanhada pelo Federal Reserve (o Fed, banco central norte-americano), em mais um episódio de rendição dos governantes à ditadura dos mercados financeiros.
É verdade que especialistas ouvidos pelo jornal "The International Herald Tribune" divergem a respeito dos efeitos sobre o crescimento que terá a elevação dos juros.
Mas parece razoável supor que, na melhor das hipóteses, ela freará o vigor demonstrado pela economia nos três primeiros meses do ano, depois de crescimento relativamente anêmico no ano passado (1,3%).
Como os EUA são a locomotiva da economia mundial, pior para todos.

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