São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996
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Dever e obrigação

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - É comum no Brasil ouvir pessoas dizendo que votam em um determinado político "porque ele é, pelo menos, honesto".
Contra essa escolha simplista já foi até criado um argumento-padrão: ser honesto não é um predicado, não é uma qualidade. É uma obrigação.
Mas esse tipo de obrigação, a honestidade, tem sido escassa. E votar em algum político honesto acaba sendo muita coisa no Brasil.
Agora, no governo FHC, surge uma atitude derivada desse voto do mal menor. É a esperança do governo de ser paparicado quando apresenta um projeto que apenas vai na direção correta, de tirar o país da miséria.
Rapidamente se forma um consenso. Quem falar mal é tachado de inimigo.
Um desse casos é o projeto de emenda constitucional, proposto pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza. É corretíssimo dizer que o projeto do ministro vai na direção correta para consertar um pouco a educação.
Por exemplo, Paulo Renato propõe priorizar a educação básica. Quer aumentar o valor médio do salário do professor do primeiro grau dos atuais R$ 78 para R$ 300. E o investimento por aluno da 1ª à 8ª série chegaria a R$ 300 por ano.
Tudo isso é bom. Claro que é. Mas já está implantado? Não. Depende de aprovação do Congresso.
Além disso, a emenda constitucional precisa de uma lei para regulá-la depois de aprovada.
Essa lei é que vai definir como será o cálculo do valor mínimo a ser gasto -os tais R$ 300 prometidos para salários e investimento por estudante. No fim, quem vai decidir quanto deverá ser gasto é o governo federal. Quando essa decisão for tomada e o dinheiro começar, de fato, a ser gasto, será enfim a hora de enaltecer.
Antes disso, é melhor guardar os elogios para mais tarde. Afinal, é obrigação do governo fazer bons projetos. O difícil é executá-los.

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