São Paulo, domingo, 5 de maio de 1996 |
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Negócio "imperdível" esconde golpe
LUCIANO SOMENZARI
Anúncios muito atrativos, com valor de entrada baixo e "suaves" prestações, são o chamariz que várias quadrilhas vêm utilizando para enganar os interessados. Na maioria das vezes, o golpe funciona da seguinte forma: o interessado liga para o número de telefone indicado no anúncio -que geralmente é um celular ou está localizado em outro Estado. Depois, fica sabendo que para começar o negócio precisa depositar numa conta bancária uma quantia em dinheiro que varia de R$ 500 a R$ 3.000, referente à primeira parcela da compra. Aceito o negócio, o vendedor recolhe os dados da pessoa para preencher uma "ficha cadastral", que seria checada no Serviços de Proteção ao Crédito. Essa operação leva poucos minutos. Entrega rápida Com a "ficha cadastral" desimpedida, o vendedor garante que, assim que receber o dinheiro, envia pelo correio o comprovante de pagamento da entrada. A entrega do carro fica prometida para dentro de uma semana, no máximo. A partir daí, nem o comprovante é enviado nem o carro é entregue. O vendedor some com o dinheiro. A reportagem da Folha, sem se identificar, ligou para um desses anúncios suspeitos -de uma "empresa sediada em Goiás". A oferta era tentadora: um Mille EP 95, com entrada de R$ 2.600 e 24 prestações de R$ 318 -cerca de 25% abaixo do preço de mercado. A "ficha cadastral" do comprador fictício foi aprovada em minutos, sem a apresentação de documentos como CIC ou RG, obrigatórios para fazer o levantamento. Para efetivar o negócio, seria preciso depositar R$ 800 em uma conta corrente de uma agência do Banco do Brasil, em Goiás, "a título de transferência da documentação do veículo". O vendedor garantia a entrega para três dias depois, sem nenhuma despesa com frete -graças, segundo ele, a uma promoção da empresa. O transporte por carreta de Goiás a São Paulo de um Mille custa cerca de R$ 380. Reclamações diárias O delegado titular da 2ª Divisão de Crimes Contra a Economia Popular (Decon), Irani Guedes de Barros, afirma que as queixas contra o golpe dos classificados são responsáveis por cerca de 26% das ocorrências da delegacia, que registra de 15 a 20 boletins por dia. Segundo ele, o golpe é considerado estelionato, com pena prevista de um a cinco anos de prisão. Barros diz que capturar os estelionatários é muito difícil porque as transações são feitas só por telefone. Ele alerta as pessoas para que não paguem sem antes ver o carro. "A pessoa deposita dinheiro na conta de um sujeito que nunca viu e depois quer reclamar do quê?" Empresa idônea O empresário Celso Garcia Page depositou R$ 950 na conta de uma "empresa com sede em São Paulo", como parte de pagamento de um Gol 1.000i Plus -entrada de R$ 1.900, mais 48 prestações de R$ 190. O Gol não foi entregue, e o dinheiro sumiu. "Cheguei a consultar a Serasa (Centralização de Serviços Bancários) antes de realizar o negócio e me informaram que a empresa era idônea", lamenta. O comerciante E.R. (que pediu para não ser identificado), de São Paulo, perdeu R$ 1.100 na compra de um Gol 1.000i. Ele checou o prefixo do telefone e descobriu que o número era de Fraiburgo (SC). Resolveu ir até lá para pegar o estelionatário. "Como era final de semana, a companhia telefônica estava fechada e não consegui localizar o sujeito, mas um comerciante da cidade disse que fará isso por mim." Texto Anterior: Produção dos modelos é baixa Próximo Texto: CARTAS Índice |
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