São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Crescimento já é inviável, diz debate

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há perspectiva de retomada imediata do crescimento econômico, nem com a manutenção do Plano Real nem com sua substituição por uma política tolerante com a inflação.
Essa é a conclusão que se pode tirar do debate promovido pela Folha na última terça-feira, reunindo os economistas Fernando Holanda Barbosa, Mailson da Nóbrega e Luis Gonzaga Belluzzo.
Para os dois primeiros, o Plano, embora com equívocos, está no caminho possível e tem chance de dar certo. Dar certo, no caso, é erradicar a inflação e criar bases para uma nova fase, futura, de desenvolvimento sustentado.
Para Belluzzo, o Plano, pela sua própria lógica interna, vai dar num desastre para a economia nacional. E o pior é que desmontá-lo também seria uma operação com pesados custos.
O debate foi proposto em torno do tema "relações entre crescimento econômico e inflação", suscitado por entrevista dada à Folha pelo economista norte-americano, Rudiger Dornbusch.
Para ele, é errado o Brasil concentrar-se na busca de uma inflação de Primeiro Mundo. Melhor seria concentrar-se no objetivo de crescer 7% ao ano, mesmo que fosse necessário aceitar uma inflação em torno de 25% ao ano.
Pelo debate da semana passada, não existe essa alternativa no momento, qualquer que seja a avaliação que se faz do Plano Real.
Para Barbosa e Mailson, aceitar uma inflação desse nível, 25% anuais, significa renunciar a toda possibilidade de crescimento sustentado. Significa ter, talvez, um pequeno surto de crescimento e uma nova e enorme crise inflacionária mais à frente.
Por outro lado, entendem que o sucesso da estabilização depende das reformas, especialmente do ajuste das contas públicas. E não há como ter, ao mesmo tempo, crescimento acelerado.
Todos os participantes do debate lembraram que o Brasil já passou por períodos de crescimento forte com inflação relativamente elevada. Mailson e Barbosa dizem que não há condições disso se repetir.
Belluzzo não embarcou nessa rejeição categórica. Não aceita uma terapia da inflação, mas insistiu que era preciso dar mais atenção ao estudo daqueles períodos.
Disse ainda que o mais importante na análise de Dornbusch estava na observação de que o foco da política deve estar no crescimento. Mesmo porque, disse, é muito difícil chegar a isso, nos países emergentes, sem parar e praticamente quebrar as economias locais. Que é, segundo ele, o que deve resultar do Plano Real.

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