São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Lixo: reciclar conceitos

ADRIANO DIOGO

Reciclar é de fato um conceito amplo e que precisa ser revisto por homens públicos, com o poder de interferir na sociedade, como é o caso do secretário Municipal do Meio Ambiente, autor do artigo intitulado "Lixo - reciclar é preciso", publicado neste jornal no último dia 12.
O que deve ser reciclado na verdade é o conceito sobre o tratamento que deve ser dado ao lixo em uma cidade como São Paulo, onde seus habitantes produzem 13 mil toneladas de resíduos sólidos por dia.
O secretário Werner Zulauf presta contas de uma viagem feita com prefeitos de várias cidades à Alemanha, Paris e outras cidades da Europa, onde a intenção clara foi a de divulgar as chamadas vantagens do incinerador de lixo urbano, proposta que o mesmo defende para a capital e ao que parece pretende difundir em outras cidades. Essa caravana de prefeitos supõe ter encontrado as soluções para o processamento do lixo no Brasil, e sem levar em conta as diferenças entre os dois países, aponta saídas para a questão do lixo em São Paulo.
Vejamos: o Secretário coloca os aterros sanitários como coisa do passado e diz que por lá eles não passarão do ano 2005. Esquece de dizer que isso só será possível porque na Alemanha já existe uma política de incentivo à redução do lixo produzido nas empresas, além de um programa de educação sobre como reutilizar embalagens. Assim, a sobra de lixo para os aterros torna-se tão pequena, que, de fato, diminui a necessidade dos mesmos. Exemplo que pode e deve ser seguido no Brasil, dentro de uma política saudável de tratamento do lixo.
Já em relação aos incineradores, a tecnologia não superou o mito das dioxinas e furanos, como afirma o secretário. Ao contrário, estudos internacionais mostram que estas substâncias químicas, que são lançadas pelos incineradores, por menor que seja a partícula, têm efeito bioacumulativo, se depositando no tecido adiposo das pessoas, animais e entram também na cadeia alimentar. Suas consequências são sérias para a saúde, como o extermínio das defesas naturais do corpo, o surgimento de vários tipos de câncer e a atuação direta nos cromossomos.
O que foi considerado uma solução ecológica para o lixo há 20 anos atrás na Alemanha, hoje já é identificado como uma indústria de ultravenenos, responsável por um terço das dioxinas passíveis de detecção naquele país.
A solução para o tratamento do lixo em São Paulo deve começar no incentivo à coleta seletiva, passar pela compostagem que vai transformar o lixo orgânico em adubo pela reciclagem e terminar em um trabalho com a comunidade para que o tratamento do lixo comece dentro de casa.
Assim, não colocaremos em risco a saúde da população e também não cederemos ao lobby da indústria de incineradores, que começa ser expulsa da Europa e a invadir os países da América do Sul.

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