São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Chute no pau do barroco

CELSO LODUCCA

Outro dia fui convidado para a estréia de um programa ao vivo chamado Barraco. É um programa da MTV com debate sobre um tema específico, em que participam alguns telespectadores entre 20 e 30 anos.
Claro que a amostra não é científica (18 jovens), mas, de qualquer maneira, dá para ter uma idéia de com esse pessoal está pensando, sentindo e agindo com relação à vida.
O tema era dinheiro. Senti-me numa reunião da finada tendência do movimento estudantil de décadas atrás chamada Libelu (Liberdade e Luta).
Com uma diferença: naquela época acreditava-se que a ditadura criava todos os males e que, quando acabasse, tudo seria diferente.
Uma grande mentira, como a história já mostrou, mas, pelo menos, era alguma esperança, mesmo que falsa.
Os jovens que participaram do programa acham que o mundo é sujo, cheio de tramóias, corrupção, oportunismo, e que não há saídas dignas. Identificam sucesso profissional com uma obrigatória degradação moral.
Óbvio que o mundo não é como sonhávamos, principalmente porque as pessoas não são como a gente imaginava -e queria- que elas fossem.
O ser humano é um projeto muito mal-acabado de Deus. Talvez porque Deus só tenha tido algumas horas. Mas daí a acreditar que o mundo é um bordel, e que só "dá certo" nele quem age como as profissionais do prostíbulo, há uma distância enorme.
Por mais exemplos que existam confirmando essa versão da vida, percebo que estamos sendo todos incompetentes para mostrar aos jovens que existem outros caminhos para a realização pessoal e profissional.
Os "nossos jovens" são maniqueístas e conseguem distinguir muito pouco as coisas. São uma geração de "novos-velhos". Desanimados, desesperançados, sem perspectiva.
Antes de condená-los, fico triste e preocupado. As coisas têm mudado tanto e tão rápido, e eles estão aí, cristalizados, há algumas décadas.
Totalmente inabilitados e inadequados para o mundo, que é muito mais sutil e diverso do que eles estão conseguindo enxergar.
Não quero cair no mesmo erro em que eles e generalizar uma atitude a partir de alguns poucos exemplos.
Nem todos os jogadores de futebol se comportam como Romário, nem todos os políticos são como Collor, nem todo os publicitários agem como "vocês sabem quem" e nem todos os jovens são velhos e desiludidos.
É para estes outros jovens que eu escrevi este artigo: continuem acreditando em valores. Dá para crescer profissionalmente com competência, paixão e ética; dá para ganhar dinheiro, fazer sucesso e viver bem com talento; dá até para ser dono de agência.

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