São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Livro mostra que mulher é discriminada

Herdeira revela preconceito

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sadia, um dos maiores grupos privados nacionais do setor de alimentos, tem uma tradição de tratar as mulheres que contrata de forma machista e discriminatória.
Essa é a forma como a empresa (que faturou US$ 2,9 bilhões no ano passado) é retratada no livro "Como fritar as Josefinas", escrito por uma pessoa que conhece a intimidade da Sadia, Yara M. Fontana, 37, neta do fundador do grupo, Attilio Fontana.
O título é uma brincadeira com um dos produtos fabricados pelo grupo, a lingüiça Josefina.
Nascida em Concórdia, a cidade de Santa Catarina onde a empresa foi fundada há 52 anos, filha de Odylla, uma das filhas do primeiro casamento de Attilio Fontana, Yara escreveu o livro como uma espécie de desabafo.
Sua vida sempre esteve ligada à Sadia, desde criança, quando toda a família estava voltada para servir aos interesses da empresa e do avô.
"Nunca pensei em trabalhar em outra empresa porque a minha vida era a Sadia", diz ela. Yara teve de batalhar muito até para conseguir ser admitida.
Aceitação difícil
A primeira vez em que pediu um emprego no grupo, a reação de seu primo Walter Fontana, então diretor, foi perguntar a Yara se não seria melhor abrir uma butique.
Depois de 11 anos de Sadia, Yara continuava com um salário muito menor do que o dos parentes homens e estava meio "encostada".
Ela pediu demissão em junho de 94 e resolveu escrever suas experiências. O livro conta que a discriminação contra as mulheres na Sadia era generalizada.
Tanto assim que foi necessária uma greve, em julho de 1986, para que as funcionárias da fábrica passassem a ganhar os mesmos salários pagos aos operários.
Artifícios
Muitas vezes, a companhia usou artifícios para pagar menos às mulheres. Num determinado caso, dois estagiários foram contratados para cumprir as mesmas tarefas.
Houve uma diferença, porém, na contratação: o homem assinou o contrato alguns dias antes do que a mulher, o que impediu a funcionária de receber o dissídio integral.
"Com esse truque, Mônica ganharia menos que Luís, apesar das idênticas condições em que os dois começavam a trabalhar".
Outras mulheres da família também foram discriminadas, diz. As que trabalham para o acordo de acionistas nada recebem -inclusive Terezinha dos Reis, coordenadora-geral do acordo e tia de Yara.
O livro também conta uma série de casos que mostram a Sadia como uma empresa que, pelo menos até dois anos atrás, quando Yara ainda trabalhava lá, seguia padrões muito burocratizados.
No departamento de Recursos Humanos, por exemplo, quando Yara começou a trabalhar, era obrigatório preencher sete vezes uma mesma ficha para cada funcionário.

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