São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Gestão é pura como convento, diz Amato

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Sesi e o Senai de São Paulo sempre foram administrados com uma pureza típica dos conventos, se é que os conventos hoje são puros."
A afirmação é do empresário Mário Amato, 77, que participou da gestão dessas entidades durante 36 anos, quando ocupou, na ordem, os cargos de tesoureiro, vice-presidente e presidente (86-92) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Abro a quem quiser todos os livros da minha administração nas entidades para qualquer investigação que se queira fazer", desafia.
Ele diz temer que pessoas "maledicentes" possam acabar com uma "das melhores coisas que este país tem".
O sucessor de Amato na presidência da Fiesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, 57, diz que não é procedente a afirmação de que os recursos do Sesi e Senai de São Paulo sejam voltados para as atividades meio e não para as atividades fim.
"Cerca de 80% do orçamento é voltado especificamente para a área educacional e 20% voltado para as atividades meio", afirma.

Retrocesso Amato e Ferreira são contra a extinção, proposta pelo ministro Paulo Paiva (Trabalho), da contribuição compulsória para as entidades. "O governo não tem moral para isso", diz Amato.
"O dia em que o governo der ao trabalhador a mesma assistência, nas áreas de educação, saúde e lazer que nós damos no Sesi e no Senai terá o direito de acabar com as nossas entidades."
Amato e Ferreira dizem que seria um retrocesso o desmanche de uma máquina educacional, o Sesi e o Senai, que atende hoje 3 milhões de pessoas por ano, 1,8 milhão somente no Estado de São Paulo.
"Desativar essas entidades num estalar de dedos é uma loucura", diz Amato.
Os dois concordam com medidas para dar mais transparência à administração das entidades, entre as quais, auditorias externas, a participação obrigatória e efetiva de trabalhadores nos conselhos de administração e a obrigação da aplicação majoritária dos recursos na atividade fim.

Natureza da verba Ambos discordam, porém, da avaliação do ministro Paiva de que a contribuição obrigatória das empresas às entidades seria parafiscal, portanto dinheiro público.
"Isso é de uma estupidez córnea, porque é de uma avaliação de uma obtusidade inexplicável", afirma Mário Amato.
Na avaliação de Ferreira, o ministro se equivoca. "Ele confunde recursos orçamentários com contribuição parafiscal", diz.
Ferreira entende que, por lei, o governo é apenas o órgão arrecadador do imposto.
"Ele não incorpora esse recurso que ele arrecada e ganha para arrecadar, posto que o INSS se autocredita daquilo que a lei lhe faculta e nos repassa a diferença. Repassa primeiro para o sistema nacional, que depois repassa para os sistemas regionais do Brasil inteiro", argumenta Ferreira.
O atual presidente da Fiesp diz que a contribuição parafiscal é indispensável para a manutenção do sistema de ensino que a indústria, afirma, "em vista da falência do Estado, é obrigada a assumir".
"A contribuição parafiscal não é dinheiro público. As entidades são mantidas pela indústria com a fiscalização do governo federal através do Ministério do Trabalho e do Tribunal de Contas da União", afirma Ferreira.

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